LUTO, LUTA E MUITA EMOÇÃO

Abro os olhos e vejo o povo nas ruas de a pé, como dizem os pernambucanos. Assustei-me! Gente como formiga! Paisagens multicoloridas aqui e alhures. Todas as tendências, raças, cores e idades moviam-se queimando o solado dos pés, no sol quente, pelas ruas sinuosas do mundo inteiro, sem ensaio, com energia e fulgor máximo. A vida explodia de forma pujante querendo libertar-se, pé no chão; sem moto, sem dinheiro, sem xerife.

Observei o equilíbrio e a organização. Todos usavam máscaras, mantinham distâncias, protegiam-se. Quanto zelo pela saúde! Quanta ética! Dava gosto de se ver!



Carregavam no semblante a coragem, a tristeza e a indignação pelo desrespeito à vida, à dignidade e a negação à ciência que matou mais de 500 mil irmãos … um espectro devastador de órfãos desamparados. 



Danças alegóricas e canções animavam os protestos. Fora Bolsonaro, fora genocida e fora assassino eram as palavras de ordem mais vistas e ouvidas em vários idiomas, pois o movimento se globalizou através do projeto Stop Bolsonaro Mundial.



Se as manifestações do dia 29 de maio de 2021 assustaram o presidente tido como criminoso pelos manifestantes, as de hoje, 19 de junho, fazem-no torar um aço e por os seus cabelos de pé.

Os artífices e apoiadores do golpe de 2016, que produziu esse desastre, estão arrependidos, envergonhados e sem saber como descascar esse abacaxi. O desespero é grande, já deu para entenderem o equívoco que cometeram.

O povo, a vítima maior, pressionará nas ruas, mostrará caminhos, mas o pão demorará a ser posto na mesa do trabalhador e o Brasil, embora forte e cheio de esperança, continuará sisudo por algum tempo. Os apátridas agiram de forma cruel e deveriam ter seus bens sequestrados para ressarcir os incalculáveis prejuízos e males causados.

A eleição de 2022 espera na esquina e as cabeças dos algozes ardem, tramando armadilhas. A tão almejada terceira via não vingará. Eles não têm quadros capazes de resolver o imbróglio que criaram.

Há que se buscar um na Senzala, capaz de derrubar muros e construir pontes. Mas o sangue azul da avarenta classe dominante, põe o lenço no nariz quando pensa em juntar-se ao sangue vermelho da eternamente explorada classe patrocinadora do desenvolvimento.



E haja luto, luta e emoção. A primeira revolução do Brasil vai acontecer. Quem viver, verá.

Gilmar Oliveira

Gilmar Oliveira, Professor Universitário.