Muito boa a análise em texto do professor de (doutor em) Sociologia Cleyton Monte com o título “A lógica das reformas do governo Temer”, publicado aqui neste Segunda Opinião, traz muita luz ao momento e ajuda a compreender o que há por dentro e por trás da “crise”.
O autor identifica cinco características nas tais reformas, que listo e já comento. Elas só trarão resultados a longo prazo, (mas) são tratadas como urgentes, dispensam e recusam qualquer diálogo ou negociação com a sociedade e até com o Congresso que as aprova, (isso mostra evidentes) falhas na comunicação e inconsistência de planejamento e são impopulares.
A falta de qualquer resultado efetivo contra a recessão e o desemprego a curto prazo já devia advertir jornalistas e economistas para uma postura mais crítica quanto ao que se propõe, ao que quase se impõe pelo rolo compressor no Congresso. E o que vemos: jornalistas e economistas que militam na imprensa tradicional apoiam incondicionalmente, atuando como evangelizadores de uma nova era, mentem ao sugerir que há um combate à crise. A atitude do Congresso e de cada um de seus membros de obediência cega e atitude bovina (honrosas exceções) não encontra precedentes nem justificativa – literalmente agem contra a maioria dos seus representados.
Como elas não trazem resultados a curto prazo, como não há debate, como apresentam falhas de planejamento, também pode acontecer que não tragam resultados a longo prazo. Vejam a gravidade, por exemplo, da medida de arrocho fiscal por 20 anos. Como foi aprovada por Emenda Constitucional, será quase impossível mudá-la. E os estudos de entidades sindicais e de servidores públicos apontam que os resultados na qualidade do serviço público serão negativamente devastadores.
Por último, mas não menos importante, as ditas reformas são impopulares, ou seja, são contra o interesse do povo. Em outras palavras, em tendo vez e voz, o povo as rejeitaria. Claro, porque delas será a vítima.
As reformas propostas pelo governo Temer, apoiadas nesse estranho clima de suspensão do debate democrático e do bom senso, portanto, são inócuas como elemento de combate à recessão e ao desemprego. Elas diminuirão os direitos trabalhistas (o negociado vale mais do que o legislado), os direitos sociais (reduzirão e adiarão a aposentadoria) e vão piorar a qualidade do serviço público, já baixa.
O que as justifica? A quem interessam, então?
Elas criam um imenso mercado de negócios de previdência privada via grandes bancos, elas colocam no ombro do trabalhador toda a culpa e todo o ônus pela baixa produtividade da empresa brasileira e oferecem aos membros da parte alta da pirâmide social uma proteção contra aumento ou criação de novos impostos. De quebra, apontam para o país um caminho diverso do que o povo escolheu nas urnas em quatro eleições.