Alaor, filho do velho livreiro Edesio, deu continuidade à saga livreira do pai. Não foi editor, porém livreiro, com largo espaço nos seus balcões para revistas nacionais e estrangeiras. Teve uma filial no Abrigo Central. Os jornais “do sul” chegavam pelos vôos comerciais e lá estavam para os leitores costumeiros no início da noite.
Ozangela de Arruda Silva, em um
livro excepcional — Pela Rota dos Livros” — apresenta os frutos de uma pesquisa cuidadosa, a ter desdobramento em um segundo volume, assim espero e desejo, sobre livreiros e editores cearenses.
No recém-lançado CONVERSA DE LIVRARIA, que me pus a escrever graças aos impulsos de leitor compulsivo, fixei-me em alguns destes mercadores, públicos e privados, e dei -lhes lugar e voz em pinceladas literárias cúmplices, como personagens de uma aventura sedutora.
O negócio dos livros foge às regras do comércio das coisas; o livro é uma mercadoria na qual as ideias, o gosto de colecionar, dispor e penetrar nos seus guardados íntimos, transformam o leitor, cientificamente tratado como “receptor”, no tradutor das intenções do autor, por sua vez classificado como “emissor”…
Um toque final para fechar este registro.
As “books streets” de Fortaleza cobriam, no espaço dilatado de mais de um século, uma alegre topografia urbana: começavam, se para livros há começo, nos arredores do Palácio do Comércio, com a Livraria Arlindo, subiam (ou desciam) pela Guilherme Rocha, com a Livraria Imperial, o Edesio e a Feira do Livro. Desciam (ou subiam) pela major Facundo, com a livraria Renascença e a Editora Fortaleza. A praça do Ferreira ganhava cores e fregueses curiosos e alguns compradores voluntários, com a Livraria Universitaria, as livrarias e papelarias Aequitas e Morais — fora os sebos das redondezas, ao longo da Senador Pompeu, da general Sampaio e da 24 de maio…
Os jornais diários, contados por mais de uma dezena, e os bissextos, impontuais mas igualmente lidos, movimentavam as tipografias, nas quais alguns livreiros quebravam a incontinência intelectual e punham-se a produzir livros…
Não éramos a Charing Cross de Londres, porém não fazíamos feio, trazíamos o ar e a graça levantina dos mercadores de Samarcanda e das tendas de Cabul.