Não posso precisar quando vi Moreira Campos pela primeira vez. Sei, no entanto, que vim de Lavras da Mangabeira para morar em Fortaleza em novembro de 1972 e que, nesse momento, eu já o trazia comigo na bagagem, pois ele era um dos mitos literários da minha cidade natal, ao lado de Filgueiras Lima e João Clímaco Bezerra.
Lembro-me que, em janeiro de 1978, estive com ele no seu gabinete de Pró-Reitor na UFC, pedindo-lhe uma apresentação para o jornalzinho O Boqueirão, que eu havia criado, com a ajuda de alguns colegas, em Lavras da Mangabeira, e do qual eu era o redator. Ele nos atendeu com a maior presteza, e o seu texto foi publicado em toda a extensão da primeira página do jornal.
Tenho uma foto com ele, o Alcides Pinto, o Girão Barroso, o Caetano Ximenes Aragão e o maestro Alvarus Moreno, que data de setembro de 1983. Ali, eu me destacava como o único jovem entre eles, com apenas 27 anos. Isto na casa do Alcides Pinto, na Rua Rodrigues Júnior.
Sempre convivemos de forma fraterna e bastante próxima, ele me contando a origem de muitos personagens e cenários dos seus contos, como se a ficção fosse o desdobramento de suas vivências na infância, nas margens do Rio Salgado, e como se eu tivesse sido seu contemporâneo.
Dele sempre recebi as maiores atenções e os melhores incentivos. Quando entrei na Academia Cearense de Letras, em agosto de 1989, aos 32 anos, ele se antecipou e pediu para ser o relator do parecer pertinente à minha admissão, fazendo, na oportunidade, um texto bastante acolhedor e afetivo.
Não conto as vezes que lhe dei carona no meu carro, levando-o de volta para casa, nem quantas vezes nós nos encontramos para conversar sobre literatura ou para discutirmos sobre as minhas observações sobre os seus contos.
Sempre li e reli a sua ficção, deliciando-me com a sutilidade, a precisão semântica e o achado estilístico com que ele recorta as suas ironias e o tecido de todos os seus contos, entre os quais destaco: “O Preso”, “Lamas e Folhas”, “A Gota Delirante”, “Os Dozes Parafusos” e “Irmã Cibele e a Menina”.
Moreira Campos, de forma induvidosa, é um dos melhores escritores do Brasil. Não pertence somente ao Ceará ou ao Nordeste. É universal. A sua escritura literária tem o gosto da permanência e da concisão. É sutil, libidinosa e envolvente. E esteticamente muito bem realizada.
Especialmente como contista, o autor de Contos Escolhidos pode ser comparado a Machado de Assis, pertencendo, portanto, à linhagem dos grandes arquitetos da estória curta, a exemplo de Rulfo, Júlio Cortázar e Guy de Maupassant.
Vale a pena, portanto, relembrar a vida e a obra desse grande contista cearense, assim como o fez o escritor Waldir Sombra, com o seu livro Moreira Campos: Professor de Histórias e de Amizade (Fortaleza: Premius, 2011).