Durante Seminário Internacional sobre uso da maconha organizado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) no Rio de Janeiro, Maria Lúcia Karam (Juíza aposentada e presidente da Leap-Brasil, entidade internacional que reúne juízes, policiais e outros agentes da lei que são contra a atual política de combate ao uso de drogas), declarou que a forma de combate às drogas, não é uma guerra aos entorpecentes, mas “uma guerra contra as pessoas. Contra os comerciantes, produtores e consumidores dessas substâncias proibidas”.
Segundo a magistrada, os órgãos de repressão não estão à procura de qualquer pessoa envolvida com o tráfico, estão em guerra “contra os mais vulneráveis dentro desses produtores, comerciantes e consumidores, que são os pobres, os marginalizados, os desprovidos de poder”.
Ela acrescentou ainda, que “No Brasil, é muito claro, basta olhar para quem está preso, basta olhar para quem está morrendo nessa guerra. Não é que a Polícia haja discriminando, conscientemente se dirija e prenda negros e pobres, é porque o negro e o pobre são muito mais vulneráveis a nossa política. Você não manda fazer uma blitz, uma ação policial nos prédios da Vieira Souto. Se fizesse, é possível que apreendesse algumas drogas ilícitas. A Polícia é levada a fazer operações nas favelas!”, finalizou.
De acordo com os últimos levantamentos feitos pela Anistia Internacional no Brasil entre 2004 e 2007, 192 mil brasileiros foram mortos, contra 170 mil espalhados em países como Iraque, Sudão e Afeganistão. Em 2012, 56 mil pessoas foram assassinadas em solo brasileiro, sendo 30 mil jovens e, entre eles, 77% negros.
Esses índices, segundo a entidade, são resultado de uma política de criminalização da pobreza e de uma indiferença da sociedade em torno de um “genocídio silenciado” que muitas vezes fica impune.