Jovita: A Combatente – Fátima Teles

Nascida no sertão cearense, Município de Tauá, no século XIX, recebeu o nome de Antônia Alves Feitosa. Sua vida foi trilhada no estado do Piauí. Sua mãe fora acometida pelo cólera, doença que matou muitas pessoas no País nos anos de Mil e Oitocentos. Com a morte da mãe, Jovita foi morar com o tio, e aprendeu a atirar ainda muito jovem. Residiam num sítio que fazia limites entre o Piauí e o Pernambuco.

Antônia tinha a alcunha de Jovita e seus traços se assemelhavam com os indígenas, características de nossa ancestralidade no Ceará. Não era alta e nem tão baixa. A alma inquieta e destemida nutria um sonho: Entrar para o Exército e lutar na guerra do Paraguai. Ela foi em busca desse sonho e por ele ficou conhecida.

Jovita era ávida de justiça. Ouvia falar sobre os casos de violência cometidos contra as mulheres no estado do Mato Grosso pelos soldados invasores. Queria a desforra.

Jovita tinha um namorado que se alistou para a guerra, e a guerra no império brasileiro, para além do nacionalismo, era uma forma de se libertar de opressões e da falta de perspectiva. Era um paradoxo. O fato é que Jovita achatou os seios com a roupa, colocou um chapéu de vaqueiro, calçou botinas e calças e foi alistar-se. O plano de passar-se por homem não deu certo. Não foi aceita no Pernambuco, mas não desistiu de seu sonho. Partiu para Teresina novamente vestida de homem. Uma mulher a denunciou devido a suas orelhas serem furadas. Jovita comoveu o Presidente do Piauí (Assim eram chamados os governadores no século XIX) Franklin Dória, que lhe atendeu o pedido alistando-a como sargento voluntário juntamente com os milhares de homens que se alistaram.

Jovita influenciou toda uma geração, de tal modo que se um homem não quisesse servir ao País na guerra, ele ouvia que Jovita era mulher e sonhava servir na guerra…

A jovem sargento passou por muitas cidades antes de chegar ao Rio de Janeiro e, por onde passou, foi ovacionada e chamada de heroína. 

Depois de dois meses chegou ao Rio de Janeiro e a mais uma decepção. O Ministro da Guerra lhe nega o pedido e Jovita não conseguiu se alistar, voltando para Jaicós, sertão piauiense. Com o passar do tempo recebeu a triste noticia do falecimento de seu noivo e retornou ao Rio de Janeiro onde viveu no anonimato. Abraçou-se à solidão e pôs fim a sua vida cheia de sonhos. 

Jovita, que nasceu no dia internacional da mulher, tem o seu nome no “livro de aço” do Panteão da Pátria junto a outros heróis da Pátria. Num tempo onde o machismo, o sexismo e o patriarcado ainda eram muito mais fortes, Jovita desafiou a sociedade vivendo o sonho de ser soldado e ir lutar na guerra.

Há poucas avenidas com nomes de mulheres em Fortaleza, mas o nome de Jovita Feitosa está lá em uma avenida importante. Ela foi uma das mulheres que marcaram a História do Brasil e marcadamente a história da Guerra do Paraguai.

 

Maria de Fátima Araújo Teles

Historiadora, Assistente Social,Pedagoga Especialista em Direitos Humanos e Psicopedagogia Institucional Professora Formadora da Área de Ciências Humanas do Ensino Fundamental II da Secretaria Municipal de Educação de Brejo Santo Escritora e Poeta Membro da Academia de Letras do Brasil, Secção Ceará

2 comentários

  1. Daniella Cruz

    Ler Jovita através da sua escrita, deu vontade de ter mais texto para continuar a leitura. Jovita teve uma ousadia e uma coragem para se aplaudir de pé. Amei a leitura da sua crônica, Fátima.