Jesus ou Barrabás? por Capablanca

Esse período de Páscoa me fez pensar sobre coisas que aconteceram há dois mil anos.

Quem seria o personagem a fazer o papel de Suprema Corte, a corte de última instância, instituição obrigada a zelar pela integridade da justiça, pelo respeito à letra da lei, no caso judicial ocorrido há mais de dois mil anos nas terras arenosas, quentes e secas do Oriente Médio? Talvez Pôncio Pilatos, que, examinando o processo, não viu provas, poderia até extinguir ou arquivar o processo, mas escolheu lavar as mãos.

Quem seria o personagem a fazer o papel que hoje cabe aos delatores, executivos e empreiteiros? Talvez o apóstolo Judas Iscariotes, que recebeu os trinta dinheiros adiantados. Em troca bastaria apontar os dedos para o delatado, indicando-o às autoridades policiais.

Quem seria o acusado nessa trama histórica e religiosa que tanto marcou a sociedade? Provavelmente alguém de fora do circuito dos realmente poderosos daquele tempo e daquele lugar. Certamente alguém de origem humilde, sem nome famoso, sem pedigree, sem grife alguma a marcá-lo. Provavelmente, alguém a quem se poderia chamar de subversivo, revolucionário, radical. Afinal, quem se atreveria a defender pobres, crianças, mulheres? Quem se atreveria a acudir cegos e deficientes e afrontar o Império e a alta cúpula da Igreja?

E como tramitaria o processo policial e judicial? Não se sabe bem sobre o processo e as provas. Apenas que o acusado foi preso na quinta à noite. E que na sexta pela manhã, estava condenado em todas as instâncias. E na tarde desse mesmo dia foi torturado física e psicologicamente, e crucificado depois de devidamente humilhado.

E quem fez o papel de divulgar as ideias e formar o necessário clima de opinião pública favorável à violência desmedida e injustificada? Não se sabe também, na época não havia os meios de comunicação, nem os economistas e jornalistas “de mercado” para repetirem incansavelmente a ladainha. Mas, o fato é que algum sistema foi acionado e se mostrou eficiente. Quando o povão foi chamado a escolher, escolheu do jeito que se fez a encomenda. Todo mundo sabe qual foi a resposta à pergunta histórica: “Jesus ou Barrabás?”.

E que papel desempenhou a vítima de todo o processo? Não tinha bons advogados? Não soube defender-se? Não provou sua inocência? Era mesmo inocente? Não seria mais provável e razoável que fosse realmente culpado?

E se a pergunta fosse feita a você, leitor destas linhas, você teria coragem de responder? Você seria contra ou a favor “da maioria”? Jesus ou Barrabás?

E quanto à dosimetria da pena? Você mandaria prender por quanto tempo? Ou mandaria executar a pena de morte? Cruz ou forca? Que castigos aplicaria?

Algum de nós seria capaz de perdoar?

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