Isto ou aquilo – Por Alder Teixeira

Poucas horas depois da bazófia de Jair Bolsonaro, segundo a qual não existe corrupção no seu governo, vem à tona mais uma prova em contrário: o colega do baixo clero com quem revelou ter “uma quase união estável” e a quem confiou a vice-liderança do executivo no Senado, foi pego em operação da Polícia Federal com expressiva quantia em dinheiro “entre as nádegas”, conforme relatório divulgado ontem pela polícia. O montante do dinheiro roubado dos recursos destinados ao combate à pandemia da Covid-19, no entanto, supera os 20 milhões de reais.

O fato, todavia, para além de simplesmente desmoralizar o presidente canastrão, mais uma vez, indiretamente pode beneficiá-lo. Explico-me: como são tantos os casos de corrupção ocorridos em torno de sua figura, o escândalo da vez tende a encobrir por uns dias aqueles que ocorrem na intimidade de sua casa, a exemplo das “rachadinhas” já por demais comprovadas envolvendo o primogênito Flávio e o depósito até hoje não esclarecido de R$ 89 mil na conta da primeira-dama por Fabrício Queiroz.

De mal a pior, no entanto, a popularidade do presidente permanece estável, como a dar o esdrúxulo atestado de  que o Brasil tem mesmo o governo que merece, que me perdoem aqueles que nunca cederam aos apelos do mito e que não se enquadram nas categorias emblematicamente arroladas por Ruy Castro, em coluna desta sexta-feira 16, na Folha: Pecuaristas, madeireiros, garimpeiros, grileiros e incendiários infiltrados na Amazônia, no Pantanal, na mata atlântica, nos manguezais, restingas, dunas, terras indígenas e quaisquer santuários que possam ser destruídos e enriquecer amigos. Profissionais da bancada do boi, da bala e da Bíblia. Assessores de gabinete dispostos a ceder 80% de seus salários pagos com dinheiro público, lavá-los e depositá-los nas contas de seus familiares. Formadores de quadrilha, praticantes de peculato e operadores de esquemas, investigados, denunciados ou réus em ações judiciais. Juízes complacentes e advogados corruptos. Lobistas diversos, íntimos dos 01, 02 e 03. Militares ideológicos, fãs confessos de torturadores, ou apenas oportunistas, a fim de cargos no governo. PMs expulsos, delegados venais, chefes de milícias e matadores de aluguel, presos ou foragidos. Fabricantes de armas e ‘colecionadores’ das ditas. Pastores evangélicos, animadores de televisão, cantores sertanejos e promotores de rodeio, todos felizes beneficiários das novas mamatas. Negacionistas, homofóbicos, terraplanistas, camelôs de cloroquina, disparadores de fake news, linchadores virtuais, incineradores de livros, fascistas assumidos e odiadores por atacado etc., etc., etc.

Se você não está nessa relação, e, mesmo assim, continua festejando o presidente falastrão que está desconstruindo a democracia e o país… Então, com todas as letras, você é apenas um sujeito sem pudor.

 

Alder Teixeira

Professor titular aposentado da UECE e do IFCE nas disciplinas de História da Arte, Estética do Cinema, Comunicação e Linguagem nas Artes Visuais, Teoria da Literatura e Análise do Texto Dramático. Especialista em Literatura Brasileira, Mestre em Letras e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais. É autor, entre outros, dos livros Do Amor e Outros Poemas, Do Amor e Outras Crônicas, Componentes Dramáticos da Poética de Carlos Drummond de Andrade, A Hora do Lobo: Estratégias Narrativas na Filmografia de Ingmar Bergman e Guia da Prosa de Ficção Brasileira. Escreve crônicas e artigos de crítica cinematográfica

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Alder Teixeira

Professor titular aposentado da UECE e do IFCE nas disciplinas de História da Arte, Estética do Cinema, Comunicação e Linguagem nas Artes Visuais, Teoria da Literatura e Análise do Texto Dramático. Especialista em Literatura Brasileira, Mestre em Letras e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais. É autor, entre outros, dos livros Do Amor e Outros Poemas, Do Amor e Outras Crônicas, Componentes Dramáticos da Poética de Carlos Drummond de Andrade, A Hora do Lobo: Estratégias Narrativas na Filmografia de Ingmar Bergman e Guia da Prosa de Ficção Brasileira. Escreve crônicas e artigos de crítica cinematográfica