Não consigo.
Se fecho os olhos até consigo ver e acompanhar as palavras caminhando nas sinapses de meu cérebro, mas elas não se encontram. Não formam frases. Elas não me dizem o que querem.
O corpo sabe o que quer. Passo o lábio na borda do copo bem devagar. Sinto a fumaça do chá ainda muito quente e sei que não é hora certa de beber, pois irei me queimar.
Sinto! Eu sinto! Está ali conjugado. Sem verbos no infinitivo, sem essa necessidade de explicar o verbo.
Meu corpo sabe o que quer e a hora que quer. Mas eu ainda preciso das palavras, antes da ação. Eu preciso do verbo. O verbo se faz ativo para mim depois de se encontrar nas sinapses.
Os afetos, os desejos…
Eles até se encontram como verbo em minha cabeça, caminham, mas eu não os decodifico. Eles descem para a boca, mas viram um bolão na língua.
Essa língua que se embola com memória, com sabores, com arfados e até cheiros! E que raios que ela não consegue explicar nada. Só deseja se embolar contigo, na tua língua.
Imagem da internet, enviada pela autora do texto