(Trecho final de artigo de Maria Fernanda Arruda, publicado originalmente em www.jornalggn.com.br)
O que se tem visto pelas ruas e logradouros de São Paulo é coerente em tudo com o passado do Estado que, em 1932, levantou-se contra Vargas numa luta armada da qual saiu derrotado. Os barões do café perderam definitivamente as rédeas com as quais conduziram toda a Primeira República. E se foram esses barões que geraram a economia do ciclo do café, construindo ferrovias e abrindo bancos, também foram os que não souberam ser industriais, deixando esse espaço aos imigrantes. Manteve-se uma empáfia, ostentada pela aristocracia paulistana, avenida onde, mais tarde, erigiu-se a sede da FIESP, espaço em que, simbolicamente, a aristocracia paulista sofreu a segunda derrota, essa imposta por Lula, com as greves dos metalúrgicos lideradas por ele. Os empresários, líderes da FIESP, não tolerando sentar-se à mesa de negociações para discutir com “gente de macacão”, nascida para ouvir ordens, assistiram à vitória de Lula e seus comandados.
Empresários e empresas que subsidiaram a ditadura não têm capacidade para dialogar com operários, sempre entendidos como “os meus empregados”, nem competência para aceitar democraticamente um governo petista. Enfim, a burguesia paulista, depois de ter nascido e dominado a República Velha, tendo perdido a hegemonia com o período Vargas, retomou-a durante a ditadura, orientada a partir daquela FIESP erguida com luxo e riqueza na grande avenida, consolidando-a durante os oito anos de FHC. Não podendo justificar sua rejeição ao PT, externando seus interesses e vontades, essa burguesia e mais seus satélites assumem passionalmente o ódio, emoção pura, a Lula.
O ódio que motiva alguns políticos, como Aécio Neves e mesmo FHC, em parte decorre da incapacidade de aceitação de uma rejeição natural de seus nomes pelo povo. Por certo, há a sede de poder, a vontade de exercê-lo em proveito próprio, mas há o medo imenso. FHC e seu séquito temem – e muito – uma continuidade de exercício do poder pelo Partido dos Trabalhadores. Até agora, por força de algo que se assemelha a um pacto de sangue, Lula apenas se referiu a uma herança maldita, sem explica-la. Se um dia fizer isso estará apontando FHC à execração definitiva e definindo a extinção do PSDB, pondo ponto final a carreiras indignas de muitos nomes políticos do primeiro escalão.
O medo também move um tipo de imprensa “marrom”, desenvolvida durante a ditadura, e que domina os meios de informação no país, contrariando a pequena legislação reguladora existente. A continuidade do PT no Poder quase que inevitavelmente colocará ponto final a um monopólio catastrófico, que teve exatamente a força suficiente para idiotizar gerações. A imprensa e os políticos rejeitados são a grande corrente que luta para dar ao povo ignorância e fanatismo, conduzindo-o ao neofascismo que lhe daria o poder sem contestações.
Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras.