Foi no meu peito que a Rainha morreu;
Isso faz tempo, o trono posto, disponível,
Herdeiro nenhum; nem os aventureiros
De costume e tradição, apareceram
Aos portões já abandonados e sem respeito.
Nem os abandonados da vida desejavam
O Palácio; nem os revolucionários lembravam
De pôr fogo ao símbolo mais físico do poder. Quem,
Aliás, se lembrava de tais glórias e ainda temia
O meu Terror pessoal? Ninguém. O deserto
Ecoa mesmo no passado, e é como se nunca houvera
Aqui viva pessoa. As sombras e os fantasmas,
Nem mesmo eles visitavam o mausoléu abandonado. Quem,
Aliás, saberia ler os alfabetos perdidos em que estava inscrita
A promessa do meu sonho? Não há ratos nem aranhas;
Dos insetos só restaram algumas carapaças antigas.
O frio e a poeira fazem o império de Nada disputado por Ninguém.
Quem me dera ao menos o poder libertador de uma risada!
O último bobo, quantos séculos atrás, saiu fugido, e levou
A coroa, o cetro e uma sentença de morte
Que desde então ninguém mais respeitaria. Republicanos,
Onde estavam eles para tomar de assalto o poder desse Estado?
Já tinham migrado todos; meu país tão íntimo e pessoal
Era apenas a lembrança imperfeita de um sonho
Que fora melhor eu nem ter sonhado.