Granadas bolsonaristas

“Tenho uma longa história com Roberto Jefferson”. Jair Messias Bolsonaro

 

No cancioneiro popular existe um verso que diz assim: “Não acredite em nada do que ele fala, porque esse cara é mala, esse cara é mala”. Mas há também aquele ensinamento secular segundo o qual “a mentira tem pernas curtas”. De tanto mentir, os mitômanos acabam tropeçando em suas farsas. Suas armas de ataque atuam na exploração da mediocridade, do ódio e da violência, alimentando papagaios repetidores do “ouvi dizer”; incapazes de desenvolver um pensamento crítico, aceitam passivamente “tudo o que vem do alto”.

O Golpe de 2016 só foi possível devido à aceitação passiva de milhões de papagaios brasileiros à manipulação da realidade produzida pelo consórcio golpista militar-jurídico-econômico-religioso-midiático, a partir da assim chamada Operação Lava Jato (o processo de lawfare voltado para retirar o presidente Lula da eleição de 2018, conduzido criminosamente por Moro e Dallagnol). O objetivo central da Lava Jato foi o de possibilitar a chegada da extrema-direita armada ao poder.

Conforme decisão de 24 de janeiro de 2022, do ministro Alexandre de Moraes (STF), contemplando Roberto Jefferson com o benefício da prisão domiciliar, para gozar de tal privilégio Jefferson era obrigado a usar tornozeleira eletrônica; impedido de qualquer comunicação exterior pelo fato de continuar na condição de preso, sendo vedada a sua participação em redes sociais de sua titularidade, de interpostas pessoas, partidos políticos ou de quaisquer outras pessoas; proibido de receber visitas sem prévia autorização judicial; desautorizado a conceder qualquer espécie de entrevista; negada a comunicação  com quaisquer investigados no inquérito 4.874/DF. Ficou consignado na decisão judicial que o descumprimento injustificado de quaisquer dessas medidas ensejaria imediatamente o restabelecimento da prisão preventiva (art. 282, § 4º, do CPP).

De acordo com a ampla cobertura da imprensa escrita e televisiva nacional, o referido indivíduo de extrema-direita, no dia 23, resistiu criminosamente à ordem judicial, disparando mais de 20 tiros de fuzil e lançando duas granadas contra policiais federais (atingindo dois deles), que estavam executando o mandado judicial de suspensão da prisão domiciliar e retorno imediato do referido prisioneiro ao cárcere, por ele haver transgredido as determinações previstas acima. O que pensar sobre esta ação subversiva da ordem e da Lei perpetrada por este elemento, um dos expoentes do bolsofascismo, a uma semana da eleição presidencial?

Pergunta-se: quem foram os planejadores intelectuais da ação armada do prisioneiro Jefferson no dia 23? Quem levou armas e munição para o criminoso agir? Por que não causou nenhuma estranheza por parte de seus amigos e correligionários a bandidagem de Jefferson contra os policiais federais? Quais os objetivos da divulgação midiática facilitada por terceiros? Qual a intenção de Bolsonaro ao enviar seu ministro da Justiça para acompanhá-lo? Quem são as pessoas filmando ao vivo a entrega das armas para a Polícia Federal pelo padre impostor? Por que bolsonaristas atacaram jornalistas no desempenho de suas funções profissionais?

Se antes Bolsonaro se vangloriava por ter “uma longa história com Roberto Jefferson”, ontem à noite, 23, num vídeo oficial enviado para os meios de comunicação social, chamou-o explicitamente de “bandido”, buscando solucionar rapidamente o imbróglio aprontado pelo fiel escudeiro. Teria o enredo saído diferente do combinado? O mitômano chegou ao descaramento de afirmar não possuir foto ao lado de Jefferson.

Segundo o jornalista Carlos Alberto Jr., assim que o terrorista começou a lançar suas granadas contra os policiais federais, imediatamente sua rede de apoio entrou em cena, com Allan Santos (foragido da justiça brasileira) postando um vídeo no Instagram dizendo que “decisão ilegal não se cumpre”. E no Brasil, youtubers mobilizaram a base bolsofascista comparando a decisão judicial a uma espécie de Gestapo (polícia secreta nazista alemã). Em outra frente de mobilização do gado, Daniel Silveira repercutiu que “a prisão era ilegal”.  Da Espanha, o ex-ministro de Bolsonaro, Sérgio Moro, considerou ser apenas “um ataque sem noção” a tentativa de duplo homicídio do bandido Jefferson (lembrando que Moro em abril de 2020 assinou portaria para a liberação da venda de armas no Brasil). Por sua vez, o general da reserva Hamilton Mourão sinalizou para o gado bolsonarista que “os freios e contrapesos não estão funcionando, e que vai atuar no Senado para o impeachment de ministros do STF”.

O psicanalista cearense Valton de Miranda Leitão, anotou em seu artigo “Bolsonaro no Espelho”: o inconsciente narcísico da massa que segue o mitômano não tem escrúpulos, posto também por não possuir pensamento crítico, pois o único “pensante” é entronizado como mito. A massa funciona nesse diapasão tendo na arrogância o ponto central do qual se organiza seu caráter. A arrogância, por sua vez, faz uma combinação com a estupidez, sendo o conjunto fascinado pela violência. Nenhuma ética cabe em tal sistema.

Importante lembrar que mesmo diante deste acúmulo de violências, mentiras e ódios executados nos últimos quatro anos, milhões de papagaios brasileiros colocaram no Poder Legislativo – Senado e Câmara Federal – um número significativo de representantes da extrema-direita brasileira no primeiro turno da eleição. A pergunta que emerge naturalmente, depois de mais um horror praticado por um dos expoentes do bolsofascismo, atirando granadas em policiais federais, é a seguinte: será que padres, freiras e fiéis cristãos continuarão a apoiar esse horror no segundo turno da eleição presidencial? Ou já seria o caso de imaginar missas ou cultos evangélicos sendo celebrados com fuzis e granadas em seus altares?

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

Mais do autor

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

1 comentário

  1. Valdenir viana

    Oque da pra ver claramente é que 2016 houve o golpe contra a Dilma e já visando impossibilitar a candidatura de Lula, pois sabiam eles que seria impossível vence Lula