Nasci e cresci numa cidade do interior onde os costumes são bem diferentes dos grandes centros e capitais. A vida para nós mulheres é norteada pelo poder patriarcal. A sexualidade feminina não pode ser exercitada, a mulher é guardada dela mesma e “educada” para ele. O homem é o dono da sexualidade da mulher.
Não vemos o corpo como uma expressão divina e de prazer. Há em nós uma culpa em sentir prazer ou mesmo em buscá-lo. Ensinaram-nos que o corpo é uma casa sagrada que deve ser tocada apenas depois do casamento com o objetivo apenas de procriação. O corpo feminino é para a sociedade a definição de santuário e tem o objetivo de formar a sociedade a partir da instituição Família. É ultraconservador, mas é assim que nos veem.
Treze anos é a idade dos primeiros desejos. É a idade em que a libido se apresenta, e na descoberta dos prazeres do corpo, o corpo é uma festa, como assinala Eduardo Galeano. Porém, para nós, meninas e mulheres, “educadas” no interior, o corpo não é uma festa. O nosso corpo não é nosso, é antes de tudo a nossa prisão. Ele é encarcerado até o casamento, e antes de ser nosso, é do outro, é do homem, dono do nosso prazer.
SOMOS CULPADAS POR SENTIR PRAZER. NÃO DEVEMOS SENTI-LO. O TOQUE EM NÓS MESMAS É PROIBIDO.
O sagrado para nós não representa força e nem autonomia.
A sexualidade habita a natureza e nós estamos conectados a ela. Porém, em Cidade do interior essa conexão não pode ser vivenciada pelo toque da mulher nela mesma, pela sua descoberta com o que lhe dá prazer no seu corpo e pela sua reconexão com a natureza que conversa com a sua alma e o seu corpo.
Ser dona de nosso prazer é a nossa maior busca e a nossa maior luta desde o Século XX até os dias de hoje.
Cresci ouvindo e vendo essas afirmações, e espero que a luta feminista nos emancipe e que a sociedade reconheça os nossos direitos. Que nós possamos ser livres e que nossos corpos sejam também para suas escolhas, como são as borboletas que colorem o ar. Que a culpa não encontre em nós uma casa aberta, mas que o prazer para a nossa alma seja como uma roupa leve em dias de verão. Que o toque não seja proibido em nós por nós e nem pela sociedade, mas que tenha a liberdade de deleitar-se consigo próprio.