“…É interessante observar todo o processo que leva uma pessoa a categorizar alguém de “petista”, e quais características deve ter uma pessoa para ser enquadrada em tal categorização. O processo passa por um contraste bem básico, que divide o mundo entre “nós” e “eles”:
Nós somos legais, eles são chatos; nós somos inteligentes, eles são burros; nós somos honestos, eles são corruptos; nós somos brasileiros, eles são petistas; nós somos patriotas, eles são comunistas.
Ao final desse processo (que muito pouco ou quase nada tem de racional), a categoria petista está repleta de características abjetas e repulsivas, que devem ser evitadas pelas “pessoas de bem”. Daí, temos falas do tipo:
“odeio petista; petista tem mais é que morrer; não falo com petista; o que fode com este país são os petistas”.
Como já disse, é um processo pouco racional, extremamente emocional, que vai desaguar no uso de um verbo muito interessante: odiar. “Eu odeio petista!” ou “Eu odeio o Lula!”
Agora pense semanticamente comigo: que tipo de sujeito comanda o verbo odiar? Vamos fazer uns testes:
– A pedra odeia o sol: não, objetos inanimados não comandam o verbo odiar.
– Meu cachorro odeia tomar banho: sim. Trata-se de um ser vivo, porém não humano, desprovido de capacidade de raciocínio.
– Eu odeio química: sim. Ser vivo, humano, capaz de raciocinar.
O verbo odiar, então, tem essa característica: ele prescinde de raciocínio. É um verbo sensorial.
Agora vamos fazer outras substituições. Vamos pegar o parágrafo em que eu cito chavões que usam a palavra petista, e vamos substituir essa palavra por outras para ver o resultado semântico (estou no campo da semântica. Não levem a coisa pro lado ético e moral, por favor!)
1) Trocando petistas por negros:
“odeio negro; negro tem mais é que morrer; não falo com negro; o que fode com este país são os negros”.
2) Trocando petista por judeu:
“odeio judeu; judeu tem mais é que morrer; não falo com judeu; o que fode com este país são os judeus”.
3) Trocando petista por viado (lembrando que petista é palavra usada de forma pejorativa):
“odeio viado; viado tem mais é que morrer; não falo com viado; o que fode com este país são os viados”.
Temos, então, uma coleção de proposições que expressam racismo e preconceito. Podemos agora chamar a moral e a ética pra darem seus vereditos. É essa exatamente a fórmula do racismo: uma sensação irracional, repleta de estereótipos colecionados de forma irracional, que nos leva a categorizar (e, na sequência, tratar) o outro, que age diferente ou que pertence a uma etnia diferente da nossa como o estranho, o exógeno, aquele que deve ser suprimido / excluído / exterminado, posto que é entendido e classificado como fonte/origem de todos os problemas.”
Artigo de Madrasta do Texto Ruim, que começa assim:
Na década de 1970, a equipe da professora Eleanor Rosch, do departamento de Psicologia da universidade de Berkeley, na Califórnia, fez uma série de estudos sobre categorizações…