ESQUECERAM DA ECONOMIA? por Rui Martinho

Corrupção, Judiciário e política ocuparam o centro do debate nacional. A criminalidade preencheu o espaço restante. O futebol, em pleno campeonato mundial, ficou meio esquecido. Mas a economia ferve. O dólar dispara. O déficit fiscal explode. O desemprego não cede. Os serviços públicos não melhoram. A pessoa dos candidatos é o centro das preocupações. A moralidade privada está presente nos debates. A política é central. A reforma neste campo seria a mãe de todas as reformas. A liberdade de consciência está em discussão. A moralidade privada, ameaçada de tutela estatal com a publicização do direito privado é uma das preocupações. A economia, porém, está quase esquecida.

Temos grandes reservas cambiais. No campo alimentar e energético somos quase autossuficientes. A nossa matriz energética ainda é boa, com as fontes renováveis e limpas (eólica) ou quase limpas (hidroelétrica) e de baixo custo, se livres da carga tributária. Não temos conflito internacional. Temos grandes saldos na balança comercial. Não sofremos catástrofe natural. Apesar da situação desastrosa da nossa educação, temos centros de excelência em algumas universidades e institutos. Vivemos o melhor momento da “janela demográfica”. Tivemos forte contração da natalidade. Temos uma parcela pequena de menores dependentes e a população adulta ainda não envelheceu. Os idosos dependentes são poucos. A população em idade produtiva é a maior fatia da população.

O desequilíbrio das contas públicas e a falta de investimentos estão na raiz do impasse econômico. Investimentos públicos minguaram. Despesas correntes devoram o orçamento. Vinculação de receitas, ineficiência administrativa, imitação do Estado do Bem-Estar europeu, tendo uma pequena parte da população próspera para financiar o Estado e a maior parte da população para assistir, ao contrário da Europa, completam o problema.

Não haverá maioria parlamentar para fazer o ajuste das contas públicas. Não teremos superávit primário. Não faremos os investimentos públicos necessários. As reservas cambiais, embora sejam grandes, não poderão segurar indefinidamente o real. A desvalorização cambial exerce pressão inflacionária. Privatizar a infraestrutura econômica seria uma forma de atrair investimentos, é duvidoso, porém, que isso aconteça, qualquer que seja o resultado da próxima eleição.

A percepção dos leigos pode ser vista na tendência para abandonar aquele que já foi o país do futuro, mas tornou-se, para os próximos anos, um país sem futuro. A maioria dos jovens entre dezesseis e dezenove anos pensa em deixar o país. O povo tem radar.

Rui Martinho

Doutor em História, mestre em Sociologia, professor e advogado.

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Doutor em História, mestre em Sociologia, professor e advogado.