Entalhe Íntimo – RENATO ÂNGELO

Ele apodrecera

Dentro de si mesmo

Preenchendo o vazio

Com hordas de pedra, metal e carne

 

Cada golpe do cinzel

Cada apunhalada da vida

Cumpria o destino seco e inerte

Molde-abscesso, expiação sua

 

A natureza do mármore

A frieza do metal

A inconstância da carne

Avesso do vazio à língua muda

 

A arte de desenhar-se

A beleza de reinventar-se

A singeleza de traduzir-se

O talento em complicar-se

 

Cumpria, ele, o molde de ser

Desenhando a si com coices da vida

Seguindo instintos extintos retintos

A dança do vento lambendo seu corpo

 

Para ele, puseram pedestal

Para ele, ditaram fantasia

Para eles a verdade apostasia

Carne-podre pedra pobre, carcomia

 

E se a forma foge a fôrma da vontade

E se o aço pedra a carne da matéria

Desfaz-se ele à consciência deletéria

Estátua a roupa a despir-se vaidade

 

Resmungando a vida, com ternura

Transpirando, assim, na sepultura

Fez dos golpes e ardis, sua moldura

Na psique, alegoria escultura

 

Renato Angelo

Mestre em políticas públicas, professor universitário, pesquisador, poeta e contista

Mais do autor

Renato Angelo

Mestre em políticas públicas, professor universitário, pesquisador, poeta e contista