Peguei o bagagem e saí rápido. Tinha duas horas para chamar o taxi, fazer o check-in e embarcar. Apesar da exiguidade de tempo, estava calmo e bem concentrado. Havia terminado de ler o tópico ACALMANDO A MENTE do livro O JOGO INTERIOR DE TÊNIS.
Olhei as horas no iPhone, perto de meio dia, rush hour.
Imaginei: trânsito parado e tempo passando rápido. Meu coração começou a acelerar.
“Quanto tempo, daqui ao aeroporto?” – perguntei ao motorista.
Olhando para mim, ele respondeu preocupado: “só Deus sabe! Essa hora o trânsito é fogo e parece que houve uma batida, lá na frente”.
“Que horas é seu vôo?” Perguntou mirando o relógio do carro.
Tirei o bilhete do bolso e lí rápido:
Vôo: 247 / Embarque: 13h40min / Destino: Balneário Camboriú.
“Lamento dizer, não vai dar tempo”.
Pensei em sair do carro, pegar mala e sair correndo. Não podia perder o vôo. Tinha um compromisso sério, com agenda marcada.
Chegamos ao aeroporto em cima da hora. Corri para fazer o check-in.
“ACABOU DE ENCERRAR” a atendente falou.
Olhei pra ela firmemente, bem nos olhos, e disse sorrindo: “faça de conta que sou seu pai e não me deixe perder o avião. Quebre meu galho, sou rápido e dá tempo.”
Fui o último a entrar na aeronave com a adrenalina a mil.
Take off / Climb / Maneuver / Cruise.
Com os olhos fechados, mas desperto, identifiquei essas fases do vôo que ocorreram em mais ou menos 30 minutos.
Nenhuma turbulência. A máquina aérea deslizava veloz e serena com 186 passageiros a bordo. Uma criança, na poltrona da frente, brincava no colo da mãe balbuciando palavras desconexas. Estiquei o pescoço e, de relance, vi pessoas lendo, ouvindo música, dormindo, vendo filmes … …. …
Respirei fundo e relaxei ouvindo Águas de Março de Elis Regina:
É o pau, é a pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho … …. …
Ritmo, musicalidade e beleza, essa é a definição que dou para Elis Regina que, de vez em quando, embala meu coração. Ela é o máximo!
Comecei a divagar:
Quanta saudade de ti Elis!
Por que nos deixas-te aos 36 anos?
Volta, volta, precisamos do teu vigor, do teu rítmo, da tua alegria …. …. …
Olhei pela janela e, lá embaixo, vi o Brasil e suas riquezas: fauna e flora, recursos minerais, sol, clima, água, gente mestiça de primeira qualidade …. …. …
Minha imaginação espraiou-se pelas estruturas sociais, econômicas, políticas e culturais.
Quantos desigualdades! pensei sentindo um frio n’alma!
De repente, um beep seguido de um aviso:
Senhoras e senhores, teremos um breve momento de turbulência que durará de dois a três minutos. Coloquem os assentos na vertical e apertem os cintos. Obrigado!
Com esse pequeno episódio, o eixo da minha imaginação mudou.
Comecei a meditar sobre a efemeridade da vida:
Num piscar de olhos um coração pode parar de bater;
Num estalar de dedos, uma vida pode acabar …. …. …
Será que os detentores do poder não sentem isso?
Por que alguns deles, em alguns momentos, desrespeitam os menos favorecidos!?
Por que alguns deles, em alguns momentos, ficam tão orgulhosos!?
Por que alguns deles, em alguns momentos, se acham superiores!?
Por que? Por que? Por que?
NON-SEN-SE !
Tudo a ganhar e nada a perder … se olharmos o próximo com profunda humanidade.
A vida é feita de emoções – na terra e no ar.
VIVA A VIDA !