O texto de Adriana Alcântara sobre o poder invisível e o poder visível é estimulante. De fato, os eventos da política, olhados um por um, podem parecer aleatórios, oferecendo a impressão de que são incontroláveis, e talvez sejam. Como alguém que olha uma árvore e suas singularidades, sem perceber a unidade da floresta. Entretanto, para além de qualquer especificidade, há um ritmo e uma direção que a todos organiza, como se eles estivessem todos apontando para um objetivo. Esse ponto de chegada não é exatamente o que a maioria precisa ou espera, mas rigorosamente o que esse poder invisível decide. E o Brasil e a Itália, como ela sugere, são sociedades que abrigam bem essa forma de condução. Mas, olhando bem, o modelo parece se aplicar a todos, numa espécie de homogeneizacão política. As nações que tentam alçar vôos autonomamente definidos passam imediatamente a ser percebidas como pontos fora da curva (e que precisam ser rapidamente trazidos de volta, custe o que custar).
O mesmo ocorre no mundo dos negócios. A economia também constrói seus modelos e estabelece ritmos e direções que todos são levados a seguir, independente de suas circunstâncias, de seus limites e de suas reais necessidades e desejos. Os governos usam seus três instrumentos fundamentais (a política de juros, a de câmbio e a fiscal) para traduzir da linguagem da política para as regras do dinheiro as determinações de uma instância invisível, mas que todos sabem que se coloca acima de todos.
Os negócios da política e a linguagem do dinheiro, aqui, ali e em qualquer lugar, se submetem a esta , digamos, coordenação invisível, esse poder invisível, essa liderança sem rosto, sem nome, sem voto e sem mandato formal. Democracia e Mercado se articulam e se apoiam e se fortalecem, mesmo quando se desviam de seus princípios mais básicos. A política e a economia se conectam e se justificam uma à outra. O discurso e o dinheiro ganham vida a partir desse sopro que não se sabe exatamente de onde vem.
Na momento mais crítico da crise financeira de 2008, quando todo o sistema econômico ocidental esteve ameaçado de ruir (ou na verdade ruiu?), o mais poderoso governo do mundo, o governo dos Estados Unidos, teve de se submeter às exigências trilionárias do que se costuma chamar de “mercado”. E cedeu. E todos os outros poderosos governos europeus também cederam, gastando centenas de bilhões de dólares para, digamos, repor a saúde do sistema financeiro.
Então, Adriana, depois disso, depois de tamanha demonstração de força deste poder ‘invisível’, quem se atreveria a não ceder?