A gente sem querer, ou querendo, vai se tornando mentiroso. Daqueles “filhos do diabo” mesmo. Quase todos nós nos contentamos com a mentira.
Não nos conformamos com a realidade. A verdade dos fatos nos assusta. Preferimos o discurso doce. Ouvir o que se gosta, ou aquilo que vai de acordo com o nosso modo de vida, é o que interessa.
Aos poucos vamos mentindo para agradar terceiros. Para não entrar em conflitos intermináveis, você entra no jogo do faz de conta: mentir e aceitar a mentira com naturalidade.
Ninguém vai assumir, mas 80% do que falamos e ouvimos durante o dia é mentira. Aquelas do bem. Seja para fugir de momentos incômodos ou, sobretudo, para deixar o outro feliz.
Aliás, afagar egos alheios é uma missão diária. É tipo: qual mentira preciso contar para deixá-lo contente? E o reverso é verdadeiro: em qual mentira vou acreditar hoje?
Impossível distinguir a mentira da verdade. Talvez verdade nem caiba mais. Realidade é a palavra.
Com propriedade, Ariano Suassuna se dizia um “verdadeiro” mentiroso. Porque o mundo não estaria apto a conhecer as verdades.
A sociedade nao foi preparada para essa finalidade.
Por isso vamos vivendo num ritual sem fim de embromação. É mais leve. Abre caminhos, mesmo que o ponto final seja um precipício.