Chegando as coisas ao ponto em que se encontram, parece aconselhável que o executivo, os tribunais, o Congresso e todas as instâncias decisórias do Estado, sejam proibidas de decidir e tomar medidas impositivas até às eleições, em outubro vindouro.
O executivo renunciará, por tempo certo, às suas atribuições de governo: se absterá de baixar decretos, de propor medidas provisórias, de autorizar despesas e praticar qualquer ato administrativo que denote interesse eleitoral ou favorecimento de aliados ou em prejuízo de adversários políticos.
O legislativo se auto privará de legislar, o que poderá ser um golpe pesado para o seu labor de produzir boas leis. Não serão nomeados assessores, consultores, técnicos ou burocratas enquanto os brasileiros estiverem em busca de candidatos nos quais votar, desafio que a muitos parecerá impossivel de vencer.
O judiciário deverá ser convencido, por sua vez, de que, no mundo civilizado, desde os exercícios teóricos de Montesquieu e das práticas dos pais fundadores da América, juízes judicam, e as Cortes e todo o aparelho judiciário e forense, interpretam as leis e distribuem a justiça. É da sua índole. Em uma democracia, dotada de mecanismos republicanos, como a nossa pretende ser, o judiciário não governa nem legisla, mas ajuda o governo a governar e o legislativo a legislar. E o faz dirimindo dúvidas e eliminando conflitos, corrigindo imperfeições de decisões e atos administrativos inconstitucionais.
Por essa razão, o judiciário deverá abster-se de julgar, condenar ou absolver enquanto os brasileiros estiverem se disputando sobre as escolhas de candidatos às eleições de outubro. Um força superior nascida do bom senso e da razão jurídica deverá forçar os integrantes desses excelsos pretórios a calar, refrear seus instintos verbalizadores e não interferir nas atribuições dos outros poderes.
Como resultante desse esforço coletivo, o País encontrará paz e o clima de entendimento, tanto mais necessários quanto desejados pelos cidadãos que pretendem viver em um Estado democrático, podendo pensar e criticar, suscitar dúvidas e suspeitas, desconfiar das autoridades que não mereçam a sua confiança — criticar o fundamentalismo médico e os dogmas ideológicos e questionar a segurança do voto e da urna eletrônica. E que a ninguém seja atribuído o privilégio de calar os que discordam e reclamam da força das oligarquias e da engrenagem dos partidos que domesticaram o voto nos currais eleitorais — para a eleição dos preferidos em prélios tidos como democráticos.
Em suma: parem todos os poderes e instâncias e deixem o povo em paz.