Eleição 2018: apesar da violência, a democracia pede passagem! por Josênio Parente

As pesquisas de opinião são os indicadores mais confiáveis para se fazer prognósticos eleitorais e assim o candidato promover ajustes na campanha e agir mais racionalmente. Não é a verdade, mas espera-se que são indicações mais próximas da realidade. Quando diagnosticadas tendências e homogeneidades entre as agências, constitui-se fonte preciosa para o trabalho de análise.

Já foi debatido, no passado, a possibilidade de manipulação que as pesquisas de opinião podem fazer, pois elas interferem também no voto dos indecisos. A confiabilidade, portanto, está no histórico das agências, sua atuação em vários momentos. A responsabilidade delas fica maior quando chega mais próximo às eleições.

Essas considerações têm a ver com os últimos acontecimentos: o resultado das últimas pesquisas de opinião após a violência sofrida pelo candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro. Fato lamentável que retrata a radicalização do momento. Deixou, contudo, uma dúvida sobre as consequências políticas, se ele provocaria uma comoção em torno do candidato e, assim, ele teria a chance de ganhar logo no primeiro turno?

Vamos tomar dados gerais de duas agencias de credibilidade conhecida, não que outras agencias não sejam confiáveis, mas elas apresentaram dados contraditórios e oferecem combustível para animar as respectivas militâncias de cada lado em disputa: são elas a Datafolha e o IBOPE, apresentadas em sequência.

A primeira agência apresentou um quadro mostrando que o incidente não afetou substancialmente o cenário eleitoral. Bolsonaro ganha dois pontos, mas Haddat ganha cinco, Ciro quatro, do outro lado. Marina cai e Alkmin patina. Aumenta a rejeição de Bolsonaro, sobretudo entre mulheres e pobres. Mas perderia no segundo turno para Ciro, Alkmin, Marina, e empataria com Haddat, embora este apresentando número maior que a última pesquisa.

A segunda, o IBOPE, vem por águas frias nessa fogueira e animar o outro lado. Ao mostrar uma perspectiva diversa, o resultado anima a outra torcida. Bolsonaro subiu bastante, acima da margem de erro, e caiu a sua rejeição. Não consegue, contudo, ganhar no primeiro turno, mas aumenta sua chance de vitória no segundo turno, ao contrário do que o dado do Datafolha apresentou. Durma-se com um barulho desse! Resultado,

Esta eleição é muito significativa. Momento em que a hegemonia cultural da esquerda se depara com a ascensão da direita, que vem se preparando há tempos. Não será ainda um momento da salvação geral, pois a história é dialética e nessa correlação de forças, que é a democracia, iremos sempre alternar para um lado e para o outro. É, contudo, um passo importante na consolidação democrática, de aumento da cidadania. Democracia é participação, pois o soberano é o povo e se ele não assume esta prerrogativa, grupos juntarão a riqueza para seu grupo. É também a melhor forma de governo numa sociedade dividida por interesses privados. A força do mercado, isto é, dos interesses privados, deve se contrapor com a força do Estado, da soberania.

O cidadão, aquele fiel ao Estado Laico, precisa entender que a lógica dos poderes está em garantir a ética, os valores laicos, que são a liberdade e a igualdade, buscando um pacto civilizatório para garantir a fraternidade, a solidariedade. Deixada à lógica do interesse privado, a sociedade organizada por interesses conflitantes poderia ir para uma guerra civil. É a barbárie, conhecida. Assim, a divisão dos poderes tem essa lógica de garantir os valores da igualdade e da liberdade. O Legislativo representa o povo, a sociedade civil e o Executivo é para governar de acordo com a sua vontade através das leis pactuadas por seus representantes no Legislativo. O Judiciário é o garantidor das leis e de que elas sejam cumpridas. Sob esse guarda-chuva é que as instituições controlam o cumprimento das leis e da ética. Assim, todos são iguais, pois mesmo quem manda está a obedecer. Esta foi a “sacada” de Montesquieu, um aristocrata que contribuiu para a governança civilizada na sociedade burguesa.

Nossa democracia é jovem, pouco mais de trinta anos. Anda nos deparamos com uma tradição de democracia delegativa, quando você delega ao candidato vitorioso um poder, não necessariamente representativo dos setores da sociedade. A democracia delegativa é a crença, típicas das sociedades tradicionais, no salvador da pátria! Mas caminhamos em direção à democracia representativa, na cresça de que é no partido que a representação se realiza, pois ele administra e controla os eleitos e traz a credibilidade na representação para a sua fidelização. A democracia representativa está em crise nas sociedades democráticas do mundo todo. A história é dialética, pois baseada em conflito de interesses privados, como num jogo de futebol, e não segue a lógica formal.

A democracia, portanto, pede passagem e essa eleição, emblemática, segue essa lógica! “Faltou combinar com os Russos” é a expressão de que planejamentos estratégicos podem falhar, mas tem o outro lado que também joga e tem seu planejamento estratégico.

Vamos em frente!

Josenio Parente

Cientista político, professor da UECE e UFC, coordenador do grupo de pesquisa Democracia e Globalização do CNPQ.

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Josenio Parente

Cientista político, professor da UECE e UFC, coordenador do grupo de pesquisa Democracia e Globalização do CNPQ.