Egoísmo não é filáucia, por Weluilson Silva

Aristóteles criou o termo filáucia, que representa o amor a si mesmo na medida certa, sem excessos nem carência. Ou seja, cada um consegue amar a si mesmo, e se aceitar. Bem retratado na música “Eu me amo” da banda dos anos 80, Ultraje a Rigor – claro, com uma leve gota de exagero. “Sempre ao meu lado, bem feliz eu serei” – diziam eles.
Já o hit “Eu sou egoísta” de Raul Seixas retrata o outro lado, mais obscuro. O egoísta é um cão que rosna para proteger seu osso. Pois, assim como todo cão faminto, nós também temos mania de satisfazer nossos desejos e necessidades, sem que nos perturbe, e não medimos esforços. Egoísmo não é filáucia.
O egoísmo é mais que uma simples ação, é um sentimento. Não se deve dizer que a pessoa foi egoísta, porque isso não vem e passa, como uma atitude.
Todos nós temos um pouco deste sentimento; uns mais que outros. Nietzsche em sua obra Humano demasiado humano diz: “Sob a influência da emoção violenta, ele quer de todo modo o que é grande, poderoso, monstruoso, e se por acaso ele nota que o sacrifício de si mesmo o satisfaz tanto ou ainda mais que o sacrifício do outro, escolhe aquele”. Portanto, mesmo que o seu próprio sacrifício lhe traga mais prazer e satisfação que o sacrifício de seu próximo, o egoísta opta pela satisfação do seu ego.
A emoção sempre fala mais alto, e o ego faz parte disso.  Segundo Freud o ego serve para harmonização entre o desejo e a realidade.O egoísta busca satisfazer sua alma. Nietzsche não achava que o egoísmo era mau. Porque a satisfação do ego faz parte de um complemento espiritual (metafísico).
Ninguém pode nos representar tão bem, quanto nós mesmos. Se dependermos do ego de outros, como do Congresso Nacional, por exemplo, ficaremos à míngua (observação).
Não amamos algo pelo que ela é, mas pelo que ela nos faz sentir. Diz La Rochefoucauld: “Se cremos amar nossa amante por amor a ela, estamos bem iludidos”. Tudo que fazemos é por nós mesmo. Para Lichtenberg, “É impossível sentir pelos outros, como se costuma dizer; sentimos apenas por nós mesmos. A frase soa dura, mas não o é, se for corretamente entendida. Não amamos pai, mãe, esposa ou filho, mas os sentimentos agradáveis que nos causam”.
O fato de alguém ajudar um necessitado, não quer dizer que ele não seja egoísta. A pessoa ajuda pelo fato de se colocar no lugar do outro. Como pela empatia, que lhes traz a dor de terceiro, e isso faz o ajudar, para que essa dor cesse nele mesmo. Se alguma tragédia acontece com pessoas que não conhecemos, não sentimos tanto, porque aquelas pessoas não têm um vínculo sentimental conosco ao longo de nossas vidas, como amigos e familiares.
Comparam-se muito o egoísmo ao individualismo, sendo que os dois são distintos. O egoísmo busca tudo para ele, mesmo que interfira no outro; e o individualismo quer apenas a separação de bens. Cada um no seu quadrado.
O egoísmo é um sentimento que não pode se extinguir, mas podemos antes de excedê-lo usar a empatia, para que nosso ego seja aplicado corretamente. Tudo tem seu lado bom e ruim, vai depender da forma como está sendo usado.

Weluilson Silva

Publicitário, graduado em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) pela Fanor/Devry, Escritor amador/ Romancista (em processo de publicação). Mestrado Incompleto de Gestão de Marketing pelo Instituto Português de Administração em Marketing (IPAM).