É PRECISO DESVENDAR O ÓBVIO, por ALEXANDRE ARAGÃO DE ALBUQUERQUE

Em meio a celebrações dos 30 anos da promulgação da Carta Magna Cidadã, com a qual retomamos nossa trilha de soberania popular e constitucional democrática, nós brasileiros e brasileiras permanecemos ainda suspensos com a falácia do processo eleitoral deste ano. Podemos dizer que foi uma eleição “fake”.

Fake porque até o presente momento não foram apresentadas as provas minimamente razoáveis para a condenação do Presidente Lula, num processo viciado, segundo diversos juristas, apressado em cumprir prazos processuais jamais aplicados no Brasil, com o objetivo de o manterem inviabilizado formalmente na disputa presidencial enquanto candidato líder nas pesquisas de intenção de voto.

Fake porque o juiz encarregado da Lava-Jato, passada a eleição, foi ter com o candidato eleito aceitando o convite para ser ministro da Justiça (sic!) do próximo governo, levantando suspeitas – nacional e internacional – de sua ação no processo condenatório do Presidente Lula para beneficiar o candidato eleito. Aquilo que em Direito é denominado de “lawfare”.

Fake porque o candidato eleito escondeu-se na armadura do submundo midiático das mensagens das redes sociais, acovardando-se de participar dos debates ao vivo, olho no olho com seu adversário, programados por todas as redes nacionais de televisão para os necessários questionamentos e esclarecimentos de suas propostas governamentais.

Fake porque o clima de violência simbólica (e real) suscitado pela campanha do candidato eleito aguçou a irracionalidade do animus preconceituoso de diversos setores da sociedade, com diversos casos de agressões físicas e até de morte, em vez de responsavelmente apontar para o eleitorado a razoabilidade democrática civilizada dialógica requerida para a formulação de pautas inspiradoras de políticas públicas em benefício da população em geral.

Fake ao declarar-se cristão católico em recente entrevista na TV Aparecida (apesar de estar no terceiro casamento) e ao mesmo tempo haver sido batizado no Rio Jordão, pelas mãos do pastor evangélico Everaldo, presidente do PSC (Partido Social Cristão), em 2016.

Fake porque esse seu “cristianismo ambíguo” o autorizou a declarar-se a favor da tortura e da ditadura como forma de governo, fazendo louvação ao maior torturador da história recente do Brasil, além de adotar diversas posturas de traço fascista, ameaçando violentamente as minorias nacionais, chegando a afirmar num comício em Campina Grande – PB que “ou as minorias se adequam ou desaparecem”. Em seu último discurso do dia 21 de outubro, transmitido pela internet, disse textualmente contra seus opositores: “será uma limpeza nunca antes vista na história do Brasil”. “Vocês verão uma polícia civil e militar, com retaguarda jurídica, pra fazer valer a lei no LOMBO de vocês. Bandidos do MST, bandidos do MTST, as ações de vocês serão tipificadas como terrorismo”.

Darcy Ribeiro nos ensina que é preciso desvendar o óbvio, pois a ilusão é mestra em confundir corações e mentes. A primeira ilusão é a de todo dia: o movimento solar nos leva a crer que o sol gira em torno da terra. Mas pelo desvendamento apurado deste fato, descobriu-se que ocorre o contrário: a terra gira em torno do sol. A segunda ilusão é achar que os pobres vivem a custas dos ricos. Também aqui há um ledo engano, porque a economia e a sociologia provaram que são os ricos que exploram os pobres. Uma terceira ilusão é achar que o povo brasileiro é um povo inferior, mas a ciência atesta o contrário: é nossa classe dominante que produz uma dominação cultural fundada no menosprezo do povo brasileiro, inferiorizando-o. Contudo, por exemplo, foram as trabalhadoras e os trabalhadores brasileiros que descobriram o Pre-Sal, do qual os estadunidenses estão doidos para tomar posse definitiva dessa riqueza brasileira. Assim, é preciso ir além das fakes atuais e futuras para não nos deixarmos levar por um óbvio que nos escraviza, retrocedendo em nossas conquistas civilizatórias. É preciso uma ação sistemática, ampla, organizada e politicamente forte capaz de acabar com essa perversão.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .