“…e por falares e cantares” – letra “e” inicial minúscula mesmo – livro do escritor Pedro Gurjão começa feliz pelo título. Lembrou-me Cantares, também conhecido como Cântico dos Cânticos, majestoso poema erótico da Bíblia (Velho Testamento), escrito pelo (ou atribuído ao) rei Salomão.
O livro do Pedro faz jus ao nome. Lá também tem, entre temas dos mais diversos, erotismo fino, humor, memória de décadas idas, trovas do autor, música popular brasileira e internacional, música erudita, poemas de grandes nomes da literatura, brasileira e universal, mitologia greco-romana, história, e “cearês” ou “cearencês”.
Trata-se de seleção de postagens das quartas-feiras no Facebook, que se transformou em saudável hábito do internauta de bom gosto (avis rara nas redes sociais, onde predomina o mau-humor, agressões e outras bizarrices).
O livro de Pedro Gurjão prova que há vida inteligente no Facebook e em outras redes sociais. A publicação deve-se à legítima pressão dos comentaristas e seguidores do autor no FB, entre os quais eu me incluo com muita honra para mim. Era necessário. Aqueles momentos não poderiam ficar perdidos na vastidão caótica da internet: daí surgiu o livro.
Tudo é perfeito em “…e por falares e cantares”: a apresentação do autor e do livro, de autoria do professor, escritor e intelectual Osvaldo Euclides de Araújo, pessoa de raro talento, a quem conheço desde os tempos do jornal “O Povo”; a mensagem especial: 100 anos do Millôr; notas do autor, onde Pedro Gurjão discorre com maestria sobre seu “jeito de falar e escrever”; e o texto da contracapa, de autoria de João de Paula Ferreira Monteiro, consultor de organizações e médico, meu companheiro de lutas no movimento estudantil no final da década de 60. Já o via e ouvia muito nas assembleias do DCE (Diretório Central dos Estudantes) dm 1967 e 1968, mas a amizade pessoal surgiu nos embates mais amenos: os etílico-boêmios, nos anos 80 e 90 no Estoril, Beira-Mar e “noutros sítios”, como dizem os portugueses.
Faço minhas as palavras de Osvaldo Euclides Araújo para definir Pedro Gurjão: “Pense numa pessoa que não cabe num currículo, porque suas habilidades são tantas e tamanhas”.
Eu digo as principais: procurador da Fazenda Nacional, escritor, poeta, jornalista, músico (compositor e violonista), publicitário, entre tantas outras atividades.
Conheço o Pedro de priscas eras: tempos do Colégio Marista Cearense. Em 1966, 1967 e 1968, aprendi a admirá-lo porque ele tocava no violão e cantava músicas do Chico Buarque de Holanda, então no início de carreira, mas já nessa época um dos meus ídolos. Isso nos intervalos de aulas ou nas famosas manhãs de sábado quando a carga horária era reduzida e os alunos se dedicavam a esportes, música (eu na condição de ouvinte), clubes de xadrez, ciência, escotismo e línguas estrangeiras (eu era do Clube de Francês, orientado pelo saudoso irmão marista Armando Reis Vasconcelos).
Depois dessa época, eu e Pedro Gurjão tivemos muitos encontros e reencontros: Secretaria de Comunicação (governo Gonzaga Mota) e jornal “O Povo” e ainda hoje em bate-papos ocasionais – precisam ser mais frequentes – regados a uísque, cerveja ou vinho com o nosso amigo comum: Osvaldo Euclides Araújo.
Inteligência, cultura, bom-gosto, nobreza de caráter e fidalguia no trato são os traços marcantes de Pedro Gurjão.
Que venham mais livros, amigo.