Por que festejamos aniversários. A opinião de um penetra
Invertamos os nomes num ritual secreto, que
Sele nosso amor, interessado e interesseiro, como
Ao centro ou meio de quatro ângulos,
Obtusos, que nos apontassem, ainda que
Cegos e imprecisos ou, por isso, condescendentes. O dito
Amor mesmo, libertemos, do ato verbal, que ele se
Restrinja a outras confusões e mal entendidos,
Ou a outros contratos de franca conveniência. Sim,
Invertamos o batizado como se inventássemos do avesso a
Natureza humana mesma, que nunca nem acreditamos
Que existisse. Sim, que se torne institucionalizada a
Pornografia própria do próprio espírito, e sejamos leves
Porcos selvagens, sem morais preocupações, no máximo,
Vaidades de estilo que não atrapalhem, nem
Comprometam, nossa vulgaridade. Rompamos,
Mesmo em segredo e entre nós, todo o compromisso
Lavrado no sonho entre a carne e a eternidade ou
Entre o desejo e a asa, que a partir de hoje as asas
Mesmas sejam asas pornográficas de impressos
Asteriscos, que a censura está voltando. O importante
É se livrar da pesada mochila de pedras dita alma. Deus,
Meu amor, é um ótimo marido, e um bom pai, ainda que
Rígido, um bom filho ainda que invisível, um bom
Amigo, apesar de coerente sempre e vigilante. Muito
Simpático, mesmo, mas quem de vera deseja o
Tempo todo ao pé de si aquele que corrige toda
A fala errada e parece mesmo a lembrança ou o
Reflexo ou o eco do que da consciência queremos,
Muita vez, esquecer? O pobre, não sejamos tão duros
Nem tão injustos, tem que ouvir por dia muitas
Chamadas em vão: muito repetem seu nome
Sem saber o que ele diz e clamam sua amizade
Sem saber o que acarreta. Quando se embriagam ou
Apenas ficam sós, mesmo que não digam,
Num ou noutro sentido, e até mesmo que
Não saibam, é por mim que chamam. Renegado
Três vezes? Sim, uma tragédia, afinal ele era um
Amigo confiável e no final as chaves mesmas
Restaram com ele; mas a negação que me dirigem atinge
Cada um dos meus nomes de sombra e ainda assim,
Sempre e de novo, voltam a me procurar, e dizem,
Ingratos, que seria por causa de promessas falsas.
Alguma vez, confesso, me excedi, mas sempre que era boa
A estratégia. Olhe o rosto e ouça a voz desses tais que
Me chamam mentiroso. Eu não sou de fato o
Avesso de nada; eu não sou de fato reinventor ou
Plagiador e nem sequer melhorador de nada. O
Tempo das promessas e das lutas acabou; a própria
Campanha política em que me bati me deixou
Derrotado enfim: foi quando aprendi que nunca
Poderia ganhar; não fora feito para isso, e até o meu papel
De oposição rápido ficou cansativo. Chamam, invocam,
Na sombra, minha ajuda em pequenas sabotagens que
O olho humano, tão criança, enxerga enormes. Depois
Vão chorar com medo de castigo. Eu já sei que
Perdi, que jamais venceria uma revanche, e
O descompromisso com a vitória constante me
Libertou, e me tornou um bicho imenso que tivesse
Morrido e que soubesse disso. Só uma coisa me deixa curioso e,
Quase, insone, se a vigília constante e a caminhada,
Não fossem minha própria natureza. Que seria do
Mundo, e da sua pobre humanidade, essa imensa criança
Buliçosa que esconde o tempo todo que
Se quebraram seus tão tolos brinquedos, se o meu nome
Comum fosse pronunciado abertamente e à luz do dia,
Como uma palavra que nada oferecesse, como o nome
Do pau, como o nome da pedra, o verbo do amor. O nome
Dos animais. O que, afinal, eles têm mesmo
De assim tão interessante,
Pai?