Percebo mais do que uma maldosa manipulação nas cobranças que são feitas ao candidato que vai merecer meu voto. Percebo as digitais evidentes de pessoas, partidos e empresas a quem ele tem dirigido sua análise cortante e suas propostas incisivas. Quando um candidato faz suas propostas e monta seu projeto básico de governo pensando nas maiorias desassistidas, dando prioridade ao trabalhador, se for honesto e quiser ser consequente, precisa ter a coragem de enfrentar interesses de quem tem dinheiro e poder. No Brasil, o poder está muito concentrado, o dinheiro também. No mercado o poder é de dois grandes bancos privados. Na comunicação, o poder é de cinco famílias tradicionais. Na indústria, são as multinacionais que apitam. Ciro Gomes e suas propostas não estão apontadas para atender os interesses do um por cento mais rico e mais forte.
Ciro Gomes teve a coragem de enfrentar os caciques tucanos paulistas que, por alguma graça divina, se acham donos do Brasil. Não é fácil a vida de quem se declara adversário de José Serra e Fernando Henrique Cardoso. A imprensa não consegue questionar sua mensagem e contestar seu argumento, e aí tenta desqualificar o mensageiro. Parece que seus pecados, erros e incoerências são poucos ou pequenos, quando se considera sua trajetória e quando se avaliam seus competidores, e, francamente, quem busca anjos e santos entre os candidatos não deverá achar.
Ciro Gomes mostra que se preparou, que amadureceu, e já demonstrou que conhece os problemas do país e que reúne os conhecimentos e habilidades necessárias para não “comer na mão” de assessores e lobistas. Tem estatura para negociar em altos termos com o Congresso, admitindo-se que isto seja possível. Tem uma trajetória como gestor público que lhe confere um nível alto de experiência executiva (como prefeito, como governador, como ministro e como candidato, o que não é comum e também não é fácil) e política. É culto, transmite convicção, inspira confiança pela palavra consistente, pela clareza de propostas, pela coragem de enfrentar questões delicadas. O voto em Ciro Gomes é consciente num grau maior do que de quase todos os outros candidatos.
Coragem não deveria ser uma característica decisiva num candidato a presidente da República. Mas é, sim. Indispensável. É preciso coragem para propor o que Ciro Gomes propõe, assim como será necessária muita coragem para colocar seu projeto e suas propostas em prática. A coragem é necessária, mas não suficiente. Muita coisa mais também é necessária e Ciro é um dos dois candidatos (vá lá, não mais do que três) que não será completamente tutelado como é o presidente que ocupa hoje a cadeira.