Debate breve e elegante entre Alder Teixeira e Dalton Rosado a partir do texto do jornalista Sérgio Aspahan

É MOSER OU LIRA. FAÇAM SUA ESCOLHA
Jornalista Sérgio Aspahan

Todo o mundo da esquerda indignado com Lula por ter trocado Ana Moser por um bolsominion.

Nao deveria.

Não estão em pauta as virtudes de uma e a excrescência do outro.

A questão é mais profunda.

Infelizmente, Lula está refém de Lira e do centrão.

Tem de entregar alguns anéis para não perder os dedos.

É o toma-lá-dá-cá clássico da política democrática tradicional. Um balcão de negócios, não sejamos ingênuos. É assim que funciona, gostemos ou não.

No popular, não há virg3m no bord3l.
Em uma ditadura, fascista ou comunista, o ditador escolhe seus ministros e ninguém dá um pio.

Mas, vivemos numa democracia, frágil e corrupta, mas democracia, no sentido burguês.

Se tivéssemos maioria no Congresso, todos os ministros seriam de esquerda, claro.
Mas, gracas às nossas massas ignaras e retrógradas, a esquerda é minoria: são apenas 140 deputados e 15 senadores governistas contra 373 de oposição na Câmara e 66 no Senado.

Política, é, principalmente, matemática, maioria contra minoria, não se iludam.
E “eles” têm maioria: são bolsominions, centrão, bancada da bala, ruralistas, neopentecostais, militaristas, lobistas e que tais.

Um dos piores Congressos da nossa história, se não for redundância.
Dilma não aceitou as chantagens do centrão de Eduardo Cunha e caiu. Não soube ceder. Não tinha maioria. Foi deposta.

Se Lira quiser, com sua maioria, aprova um impeachement e derruba Lula.

Política é a arte de negociar com os antagônicos e até com os companheiros, os do “fogo amigo”, mais perigosos ainda, os sectários, inflexíveis, os “donos da verdade absoluta”.

Política é para quem tem estômago forte e coração frio, nao é pra nós, simples mortais.

Lula TEVE de ceder, sim, e fez muito bem.
Sinto por Ana Moser, mas, é ela, ou ele, é ela, o a governabilidade em risco total.
Lembrando que Lula preservou os ministérios mais fortes e estratégicos, que a sanha de Lira queria: Saúde, Educação, Fazenda, Planejamento, Integração Nacional (Bolsa-família), Meio Ambiente, Defesa e Justiça.

Se abrir mão de um desses, acabou.
E ele não vai abrir, porque não é bobo.
Lula é o maior estadista da história desse país e, até, da história mundial.
Ele sabe o que faz.

Não entrega um ministério à toa. Está com a faca no pescoço e tem de ceder para continuar a governar, para votar as pautas de políticas públicas essenciais para o desenvolvimento do país, para a inclusão social, para combater preconceitos e privilégios, para dar dignidade até àqueles que votaram contra, que cuspiram no prato do Bolsa Família.

Lenbrem-se: 58 milhões de brasileiros e brasileiras (49%) votaram na extrema direita. E continuam vivos, à espreita.
Em sete meses, Lula já retomou todos os programas sociais de suas últimas gestões.
Enfrentou, e venceu, um golpe civil-militar.

Está, junto com o brilhante Dino, colocando golpistas, inclusive militares, e breve, a familícia, na cadeia.

Está fazendo crescer a economia.

Combatendo a fome e a miséria. Retomando o prestígio internacional. Investindo na Saúde, na Educação, na preservação da Amazônia e dos nossos povos originários.
Acabou de ser inocentado, de vez, pelo STF, que foi seu algoz.

Lula não é infalível, mas é um gigante. Antes de criticá-lo, precisamos analisar a conjuntura com frieza, razão e serenidade.
Ele nos livrou de mais quatro (ou infinitos) anos de terror, de trevas, de corrupção, de medo, de desespero.

Seu crédito é imenso, imensurável, impagável.

Obrigado mil vezes, Lula, por nos tirar das trevas e nos trazer para o novo Iluminismo, para a esperança de um país mais rico, amoroso e fraterno.

Quando fiz o L, dei a Lula e aos meus deputado e deputada, carta branca.

Assinei embaixo e ratifico.
Viva Lula.
Fascismo nunca mais!

Sergio Aspahan, jornalista.

ALDER TEIXEIRA: (para Dalton)

Marquemos a data da Revolução! Rsrsrs Abraço!

P.S. Até os meus 20, vinte e poucos, agarrava-me a essa bela utopia! Aumenta a minha admiração por você, Dalton, por alimentar tal “convicção”, embasada, como sei, numa bagagem intelectual sólida e vertical. Mas penso diferente de você, hoje… Gramsci? Talvez!

DALTON ROSADO: (para Alder)

Valeu Alder. Podemos divergir fraternalmente. Se todas as divergências na esquerda ocorressem entre pessoas que tratam seus companheiros com carinho, sem ódios e vaidades egocêntricas, tudo seria diferente.

O Sérgio Aspahan fala em sectarismo e verdades absolutas de quem diverge do Lula esquerda (a que chamou de fogo amigo). Tal postura é que é sectária e maniqueísta.
Hoje compreendo que tinhamos que ter saído do PT antes da expulsão por divergência inconciliável de métodos e objeto. Não se pode conviver com o pensar contrário quando o contrário é antagônico não apenas na forma de caminhar, mas na compreensão da deformação que se cria num caminhar que impede a consecução do pretenso destino e objeto perseguidos.

Lula criou uma estrutura partidária (que eu ajudei desde o começo) que não apenas se insere no sistema, como o defende na essência.

Ele é politicamente esperto, mas superficial no conhecimento da dialética do movimento e essência da contradição da relação social capitalista e a história (cujo tempo é cronologicamente diferenciado da vida de uma pessoa) só vai demonstrar sua (dele) incorreção no futuro mais distante.

Isso não significa que não possamos contesta-lo agora, até pela urgência dos problemas a serem resolvidos e que são insolúveis sob os critérios adotados.
Divergir é salutar; condenar pessoalmente os divergentes e que é sectarismo absolutista em relação `a verdade buscada, que é sempre relativa.

Nem mesmo Gramsci compreendeu a negatividade intrínseca da forma valor e impossibilidade de justiça sob seu critério de relação social. É claro que Lula não compreende e nem quer compreender a essência daquilo onde consegue se sair muito bem. Nenhum advogado de trabalhador quer perder o seu cliente. Superar a categoria capitalista Trabalho é superar o que Lula representa, ou seja, o lado oposto (mas imanente) de uma mesma moeda. É por isso que afirmei que temos lados antagônicos; mas isso não deve impedir o debate fraterno entre os lados, porque não se trata de questão pessoal, mas de ideias que têm um fundo científico social, longe de ser politicista.

A não aceitação da divergência funciona como alguém que quebra o espelho por não querer ver a própria face, e nem tem interesse em altera-la. Na falta de interesse em conhecer a própria imagem com os defeitos que lhe são próprios, o melhor é quebrar o espelho; o que não altera a essência do conteúdo que não se quer ver.
Abração e mais uma vez me perdoe a contundência, que é fraterna em relação a todos, e a você especialmente, sempre elegante e generoso. Dalton Rosado

ALDER TEIXEIRA:

Ocorrem-me as palavras de Hesse, em Sidarta, livro que tenho quase de cor desde a adolescência: ” Quando alguém procura muito — diz Sidarta — pode acontecer que seus olhos se concentrem exclusivamente no objeto procurado e que ele fique incapaz de achar o que quer que seja, tornando-se inacessível a tudo e a qualquer coisa porque sempre só pensa naquele objeto, e porque tem uma meta que o obceca inteiramente. Procurar significa ter uma meta. Mas achar significa: estar livre, abrir-se a tudo, não ter meta alguma. Pode ser que tu, ó Venerável, sejas realmente um buscador, já que, no afã de te aproximares de tua meta, não enxergas certas coisas que se acham bem perto dos teus olhos.”

Querido Dalton, tê-lo como amigo e interlocutor, para não falar do mestre, muito me orgulha e faz feliz! Esteja certo de que os caminhos são diferentes, mas o destino, um só: uma sociedade mais justa, mais humana, mais livre e igualitária! Abração!

DALTON ROSADO:

Querido Alder,

Apesar do pouco tempo de amizade próxima, já o incluo entre os amigos preferenciais por irmandade de gostos e visão estética de mundo própria a quem exercita o pensar.
Sim. Tenho muito cuidado em não ser obsessivo, patologia que impede a visão periférica da vida. A música me ajuda neste sentido imunológico.

Mas tal preocupação é que me impede de ser conscentâneo com a corrente do bem (o campo da esquerda) quando me convenço que a estrada está errada para se chegar ao destino colimado (principalmente quando não se quer chegar ao que supostamente é destino pretensamente comum).

E por isso que escrevo sobre os mais variados temas e sou sempre aberto `as artes, esportes, conhecimentos variados, etc.

Mas não podemos cair na obsessão de perseguir num projeto politico previamente fadado ao insucesso por conta de ignirancia cientifica, incompreensão ou manipulação perniciosa de interesses inconfessáveis.

O limite entre a obsessão psicopatológica, qualquer que seja ela, e a lucidez firme e científica, sempre tolerante com a divergência fraterna e isenta, é muito sutil, mas deve ser identificada para não termos medo de termos convicções (até o momento em que ela se mostrem equivocadas).

Por exemplo, fui marxista no modelo tradicional até o momento em que deixei de sê-lo. Escrevi sobre minha divergência com Marx, até que descobri um outro Marx, antagônico ao que me fora dado a conhecer, e voltei ao leito paterno, com humildade e reconhecimento da minha própria ignorância.

Não ter medo da autocrítica é ato revolucionário (que faltou ao PT no mensalão e petrolao, e que segue na mesma trilha perigosa).

Mais um forte abraço e saiba que nossa amizade que cresce e é testemunho de que não somos obsessivos. Viva o nosso botafogo campeão brasileiro.

Quer outro exemplo: sou Ceara, mas quero tanto bem a Fortaleza, que sofro quando o Fortaleza perde para os times de outros estados, e agora de outros países.
Abração fraterno.

Convidado

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