A família Barroso foi muito famosa nos tempos de outrora na terra da luz. Uma família muito conhecida pela sua riqueza e poder. As crianças, num total de sete, foram educadas em meio a cultura e mesa fartas. As ceias natalinas eram regadas a pratos semelhantes aos das novelas. A família residia no centro da cidade, Jacarecanga, que era o lugar onde moravam todos os ricos, e as crianças brincavam nos arredores do Bairro numa época em que havia segurança e nenhum risco de vida.
Noca Barroso era a matriarca da família. Uma mulher elegante e à frente de seu tempo. Entendia de política e debatia com seu esposo de forma admirável. Conversava sobre moda e compreendia o comportamento da juventude sem nenhum conflito. As pessoas mais jovens que dialogavam com Noca não sentiam o choque de gerações. Ela adorava Ivete Sangalo e dizia que bom mesmo eram as invenções da modernidade. O ferro elétrico e todos os eletrodomésticos. Os aparelhos rudimentares do passado foram úteis no passado, mas o que veio através da evolução da modernidade era maravilhoso. Nada de lembrar do passado. Noca Barroso era tão moderna que achava as calças rasgadas tendência de moda, bonitas.
A Família Barroso era conhecida por ser muito teimosa, e circulava até um ditado que dizia , quando a pessoa teimava muito, “você não é nem Barroso”. Com o crescimento da cidade e o aumento da população, a família foi ficando restrita às amizades de seu tempo e o ditado foi-se perdendo no tempo. Atualmente poucas pessoas sabem o significado.
O filho Newton lembra quando era criança – ouvia o seu pai falar que na Praça do Ferreira só havia um ponto de táxi que se chamava Manzine e os carros eram dois, tipo Prefect. Só havia dois taxistas e as pessoas os conheciam pelos nomes, pois como eram apenas dois, terminavam sendo amigos delas.
Newton recorda que ainda na sua infância ouvia algumas normalistas amigas da família falarem sobre a esquina do pecado, local onde passava um vento muito forte e onde os rapazes ficavam esperando as moças saírem da escola normal e do Imaculada, para o vento levantar as suas saias. A esquina do pecado ficava na esquina da rua Major Facundo com a Guilherme Rocha, onde estavam localizadas as grandes lojas da época: Loja de Variedades, Flama e Casa Parente.
Outra lembrança que veio à memória era o abrigo central, que a sua família dizia ser um ponto de encontro de todos os que iam ao centro tomar um café.
Certa feita, a matriarca Noca Barroso foi chamada no Colégio Lourenço Filho por causa do batom vermelho e as argolas grandes de sua filha. O Colégio era muito rígido, como todos no seu tempo, e quando lhe foi perguntado sobre o acessório de sua filha e o batom encarnado, ela logo respondeu que via como a sua filha saia de casa e que não achava nada de mais ela ir para o Colégio bem arrumada, com argolas imensas e batom, ainda que fosse uma cor que chamasse a atenção das pessoas.
A filha de Noca Barroso era bela e vaidosa. Em seus passeios matinais costumava passar defronte ao Jornal o Povo. Quando ela passava, no outro dia uma Colunista famosa da época a elogiava pela graça e beleza comentando que ela tornava a Cidade mais bonita por seu encanto e charme. Ela tornou-se conhecida como a moça das argolas pela colunista. Essa colunista sempre colocava a moça das argolas na coluna social do Jornal. Isso aconteceu lá pelos idos de cinquenta, quando o Jornal o Povo se localizava na rua Senador Pompeu, entre as ruas Pedro Pereira e Liberato Barroso, quase esquina da Liberato Barroso. As mulheres da família Barroso eram muito elogiadas pela sociedade da época pela elegância e beleza.