O ano era 2012 e eu acabara de participar de um curso de multiplicadores para pessoa idosa. Da janela do busão eu via o Cantinho Universitário na Avenida Treze de Maio, no coração do Benfica, bairro da boemia fortalezense. Mesmo passando rápido dava para ver a reunião de artistas brasileiros pintados por todo o bar em suas paredes. Fiquei tão impressionada com o jeito alternativo das pessoas ali, que resolvi voltar no final de semana para um chopp gelado com algumas amigas.
No outro dia a travessia foi diferente. O curso acabou e resolvi ir até ao Mucuripe . A cadeira em que sentei no ônibus me dava a visão da orla. Pela janela pude apreciar o mar e ver o quanto Iracema é amada nas terras de José de Alencar. Rapidamente pude admirar a estátua da guardiã da Cidade, personagem que dá origem aos primeiros povos que pisaram no solo cearense. Pelo vidro avistei ainda a feirinha de artesanato e a pressa das pessoas que andam num vai e vem infinito.
Algumas correndo para manterem a forma, outras caminhando, artistas realizando performances e a orla ocupada pela arte que encanta moradores da metrópole e turistas. Lá na frente eu me deparo com as estátuas de Martin e Iracema em cimento, e não canso de olhar. Meus olhos vão correndo com a ligeireza do ônibus e eu vou dizendo para mim mesma: Iracema é a dona do lugar, das aldeias e da nossa literatura. Ela é a nossa origem, e como eu amo ver essa sua imponência esculturada.
Antes da parada ainda pude perceber algumas crianças vendendo artesanatos pendurados nos ombros e bombons em pequenas caixas. Isso me cortou o coração. São os problemas sociais e econômicos existentes nas metrópoles, que não conseguem acomodar as demandas ocasionadas pela desigualdade.
Da janela da busão eu vejo o mundo que me cerca e em que vivo.
As janelas dos ônibus falam, contam histórias, sonham, veem tudo e analisam situações.
