Dia desses tive uma grata surpresa: um livro que havia emprestado a um amigo antes do início da pandemia foi-me devolvido. Era um exemplar de O Bandido Que Sabia Latim, biografia do Paulo Leminski, escrita pelo jornalista Toninho Vaz, que eu havia rabiscado e feito diversas anotações durante a leitura. Fiquei pasmo e feliz. Sou daqueles que defendem a tese de que ninguém devolve livros emprestados. Até porque raramente devolvo os que tomo por empréstimo. Logo, não sou capaz de qualquer julgamento.
Lembrei que o Moacyr Scliar numa crônica fez o melhor resumo sobre essa questão dos empréstimos de livros. Segundo ele, existem dois tipos de trouxas: os que emprestam livros, e os que os devolvem. Me encaixo no primeiro time, empresto livros, e o faço geralmente quando quero discutir a obra com um amigo. Uns devolvem, outros esquecem. Alguns leem, outros nem abrem o livro. E vida que segue…
Determinados livros não empresto de jeito algum, são aqueles com dedicatórias, de autores cearenses, ou exemplares raros, de pequenas tiragens. Uma vez emprestei Zé Limeira, Poeta do Absurdo, do genial Orlando Tejo, edição antiga, com dedicatória do autor, que adquiri num sebo. Nunca me devolveram o livro, e por mais que me esforce, não lembro a quem emprestei. Resta apelar como no verso “dor-de-cotovelo” do Chico Buarque: “devolva o Neruda que você me tomou…e nunca leu”.
Por isso digo: emprestar livro, na verdade, é quase fazer “doação”.
Desse modo, concordo com uma afirmativa que vi na internet: “Um bom livro só se empresta a um bom amigo, um bom amigo nunca pede um livro emprestado”.
por Bruno Paulino