Há tempos em que as palavras ganham vida própria, ecoando pelos séculos como símbolos eternos da luta por igualdade e liberdade. E um dos nomes que ressoa com força nesse cenário é o de Cruz de Souza. Poeta negro, escritor e jornalista, ele se tornou uma das principais vozes da resistência em um período marcado pela opressão racial e social.
Nascido em 1861, em Santa Catarina, Cruz de Souza viveu em um mundo onde a cor da pele determinava o destino e as oportunidades de uma pessoa. Desde cedo, ele foi obrigado a lidar com o preconceito e a discriminação, enfrentando barreiras que pareciam intransponíveis. Mas, ao invés de se entregar ao desespero, ele transformou sua dor em poesia.
Cruz de Souza encontrou na escrita a única forma de expressão que lhe era permitida. Seus versos traziam consigo a súplica por liberdade, um grito de revolta diante das injustiças que presenciava. Em suas obras, ele retratava a luta e a esperança, a angústia e a perseverança dos negros e dos marginalizados. Cada estrofe era um manifesto contra a opressão, uma fagulha de esperança que incendiava os corações daqueles que se viam refletidos em suas palavras.
Mas a vida de Cruz de Souza não foi marcada apenas pela poesia. Ele também se dedicou ao jornalismo, utilizando a imprensa como ferramenta de denúncia e conscientização. Seus artigos e crônicas eram incisivos e diretos, expondo as injustiças sociais e raciais que permeavam a sociedade da época. Como um farol em meio à escuridão, ele iluminava a realidade oculta, dando voz àqueles que eram silenciados pelo sistema.
A obra de Cruz de Souza, por sua vez, transcendeu o tempo. Suas palavras ecoam ainda hoje, lembrando-nos da importância de lutar por um mundo mais justo e igualitário. Ele é um dos pilares do movimento negro no Brasil, um símbolo de resistência e de superação. Sua obra é um alerta para que não nos esqueçamos de nosso passado e dos obstáculos que ainda precisamos enfrentar.
Na cruz das palavras de Cruz de Souza, encontramos não apenas um poeta, mas um guerreiro. Ele enfrentou a opressão de frente, recusando-se a ser apenas mais uma vítima do sistema. E, com sua voz potente, ele nos lembra que é possível lutar contra as injustiças e, mesmo em meio às trevas, encontrar a luz que nos guia para a liberdade.
Que a memória de Cruz de Souza siga viva em cada verso escrito, em cada luta pela igualdade e em cada sonho que se torna realidade. Que ele seja sempre um exemplo de coragem e resistência, inspirando gerações a jamais abaixarem a cabeça diante da adversidade. E que, assim como ele, possamos transformar nossa dor em poesia, traçando nosso caminho rumo à liberdade.
Marcos Abreu, é poeta e escritor brasileiro.
Fortaleza, 01/02/2024