Crônica da crônica, por Weluilson Silva

Minha primeira crônica foi bem complicada e interessante de fazer. A princípio era para se fazer uma crônica sobre cerveja; a ideia no primeiro momento parecia simples, mas como começar algo sem nunca ter feito antes? Fazer crônica sem nunca ter tido uma experiência sequer, chega a ser complicado; não, bastante complicado. Mesmo assim, comecei a produzi-la. No primeiro texto saiu um poema, depois um conto; o terceiro era qualquer outro gênero de texto, menos uma crônica, para minha surpresa.

Comecei a ler crônicas de autores conhecidos, como alguns dos populares Luis Fernando Veríssimo, Xico Sá, Gregório Duvivier, Rubem Braga; li uma, duas, três, uma dúzia de textos de diversos títulos, para que assim pudessem me orientar, e me via cada vez mais num mar de ideias que não sabia organizar.

Precisava-se focar um momento e escrevê-lo. Então pensei: vou fazer na praia. Tudo a ver, pois sol lembra calor, calor lembra uma cerveja bem gelada, mas não saía do jeito que eu gostaria que saísse. Pensei no bar, ora, o bar tem mais a ver, lá é como no Senado em pizza, tudo acaba em cerveja, saideira que o diga, sempre tomar uma pra lavar. Mas não, nada feito, porque focar um momento só, com cerveja não tem sentido, precisaria de todos os momentos juntos e focar apenas a cerveja.

Enquanto eu me prendia à mesma ideia, ficava cada vez mais de mãos atadas, sem saber o que escrever, com falta de inspiração crônica. No fundo eu sabia que a ideia certa estava ali, na minha cabeça, mas meio bagunçada, como num baú de brinquedos de criança, que precisava apenas de uma arrumadinha.

Já sei, vou tomar uma cerveja para inspirar, pensei. Comprei. Tomei uma, duas, três; foi-se uma dúzia de cervejas, e escrever sobre cerveja ficava mais distante nesta bendita crônica. Acabei ficando tonto de tanto “case”; experiências com a cerveja. E todo esse processo de escrever uma crônica tinha ficado bem engraçado de contar, e daria uma história um tanto lúdica.

Inicialmente, não sabia o que eu estava fazendo, mas o processo de criação deve existir; é como um ritual para os criativos. A cerveja era o tema, mas serviu apenas como objeto de trabalho para inspirar a primeira experiência de uma crônica.

Comecei a refletir que essa experiência que tive ao fazer a crônica seria mais interessante descrever que a própria ideia com que iniciei. Por fim, concluí que, para fazer uma boa crônica, precisa-se nada mais que uma bela experiência, ou seja, acabei escrevendo sobre a experiência de fazer uma crônica, e depois disso acabei com a cerveja, literalmente.

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