CRIME DE BRUMADINHO: FUNDAMENTALISMO À DIREITA, por Alexandre Aragão de Albuquerque

Imaginemos no dia 19 de outubro 2018, em plena eleição para presidência da República, estando o candidato LULA, com a maior intenção de votos da população brasileira, na condição de preso político, desde abril, em um processo considerado altamente espúrio por um renomado grupo de juristas, o Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais (TRT-MG) condenando a mineradora FLAPA MINERAÇÕES E INCORPORAÇÕES a se retratar diante dos seus funcionários sob pena de pagamento de R$500 mil por dia de descumprimento, em virtude de um comunicado oficial fixado no mural da empresa com a seguinte advertência: “Todos os funcionários têm o direito de votar em quem quiser para presidente. Apenas a empresa avisa que se no dia 1º. de janeiro de 2019 o Sr. Jair Bolsonaro não estiver sentado na cadeira presidencial, a empresa fecha”.

Já em 14 de março de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro publicava em seu canal do Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=g34GTfcKMbU) sua explícita condenação da política de defesa do meio ambiente: “É um absurdo o que estão fazendo, as multagens (sic) que estão fazendo junto aos produtores, em especial os do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, também no Pará estão fazendo a mesma coisa, no Brasil todo, mas nesses estados com muito mais força. Querem matar o homem do campo. Nós inclusive pensamos em fundir o Ministério da Agricultura com o Meio Ambiente. Aí vai acabar a brincadeira. E quem vai indicar vão ser os homens do campo, são as entidades que vão indicar”. Para Bolsonaro, as multas e fiscalizações feitas pelos órgãos ambientais federais sufocam as empresas. Mas na verdade quem foi novamente assassinado nesse vale tudo foram trabalhadores e trabalhadoras, desta feita os moradores de Brumadinho.

Sempre que surgem crimes ambientais dessa monta a imprensa hegemônica de plantão juntamente com os defensores do status quo apressam-se por produzir a narrativa de que as causas seriam resultado de uma falha humana, de um mau funcionamento do sistema de segurança e de protocolos desatualizados. Propositadamente fecham os olhos para aquilo que é evidente: esses crimes fazem parte da estrutura de funcionamento do sistema neoliberal. No capitalismo, tudo se transforma em mercadoria. Também o meio ambiente? Sim, principalmente. O meio ambiente é tido como uma coisa, um meio de produção e uma mercadoria com valor de troca. A produção no sistema neoliberal tem como fim o valor de troca, independente das necessidades reais de homens e mulheres reais. E para obter maximização dos resultados, vale tudo. Vale assassinar homens e mulheres reais. Vale dilapidar o patrimônio ambiental da humanidade. Vale privatizar aquilo que é público, como o fez FHC em seus oito anos de governo.

O crime de Brumadinho não foi acidental. É decorrência de uma ideologia que afirma a fiscalização ambiental como excesso de regulação do Estado, atrapalhando a economia, a produção e o lucro capitalista. Segundo esta ideologia, o poder público fiscaliza demais, as empresas é que devem se autofiscalizar. Para eles, há servidores em excesso nas áreas sociais e ambientais. E para completar, essa ideologia se autoproclama defensora da verdade, desqualificando o debate público, condenando sistematicamente pessoas, partidos políticos e organizações sociais que lhe se opõem e denunciam a mentira de seus discursos e ações. Uma ideologia fundamentalista que instrumentaliza o nome de Deus para alcançar suas falcatruas em família.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .