Depois da onça morta, todo o mundo mete o dedo no “c__ dela”.
Este registro encontra paralelo em uma definição memorável do coronel Chico Heráclio. Dizia o ilustre oligarca pernambucano (um dos maiores constitucionalistas do Brasil, poderia ter sido, graças à sua práxis precisa, de lógica bem elaborada) que no Brasil havia dois tipos de leis. As lei duras e as leis moles:
“ — As moles, a gente passa por cima. As duras, a gente passa por baixo”…
O sherifado mundial exercido pelos Estados Unidos e pela Rússia, ao longo de um século, vai perdendo o fôlego e força. Os Estados Unidos praticaram-no com os “marines”. A Rússia, com o Kominterm e o partido comunista, mundo afora. Um com as armas; o outro, com a propaganda e a dialética.
E assim dividiram o mundo, fatiado em duas bandas irreconhecíveis… Polarizaram as nossas dúvidas e hesitações.
O resto do mundo, o “outre-mer” desta França em vias de colapso metafísico, pretende praticar as regras do colonial-imperialismo de que foram vítimas — contra os próprios cidadãos. Uma espécie de picada heterodoxa na veia. Uma fungada autoritária “woke” bem servida.
Como seria o socialismo “progressista” na prática? Como o Brasil aplicaria o “socialismo real” para a construção do socialismo “imaginário” em doses intravenosas metódicas e eficientes?
Com campos de concentração, tipo “gulag”, como anuncia Maduro? Quais das estratégias “queer” seriam praticadas para a definição dos novos rumos civilizacionais a serem aplicados por aqui?
No que se transformará esta América Latina, com tantos e tamanhos marcos deixados pelas populações originárias? E pelo que veio depois, um aglomerado de nações que legou,na sua missão colonizadora, descendência prolífica que se odeia pelo que tem em comum e pelo que a diferencia e contrapõe?
A América Latina é uma referência vazia, uma metáfora desanimadora, ficção mal construída com falsa compostura geopolítica e cultural.
De latinos, temos muito pouco ou quase nada. De americanos, na acepção originária do termo, nada que nos faça parecer como tal. Crescemos e nos fizemos nações, de costas para os Andes, o Brasil Atlântico — “arranhando as areias da costa alongada, como caranguejos” — de olhos na Europa. Os visitantes, de passagem, espanhóis, franceses, ingleses e espanhóis entregaram-se à pilhagem do que arrancaram das civilizações autóctones, antes de as destruírem.
As missões com as palavras da fé que por aqui deitaram os ensinamentos da Salvação deixaram um rastro de catequese primitiva. Delas se serviu com engenho e arte essa gente conquistadora como instrumento de dominação e controle da riqueza encontrada no lugar.
Admitindo que o “foro de São Paulo” imponha os seus propósitos e dê meios para as grandes mudanças anunciadas para a criação de uma nova sociedade e de um novo homem (e de toda a cadeia + LGVT), restará uma grave expectativa. Qual a fonte legal das novas ordenações? O que corresponderá ao princípio da “legitimidade”, atestado de nascimento, em pia batismal, da democracia real ? O catecismo de Paulo Freyre dará conta do recado para regenerar o homem latino-americano?
O que se fará dos velhos conceitos, arquivados por decurso de prazo, de “democracia” e “republica” ?
Do que estamos, a rigor, a falar ao trazermos esses vagos conceitos de “esquerda” e “direita”, fascismo e comunismo como arma de combate — adjetivos indicadores de altercação verbal e dialética com inimigos previamente nomeados?