Esse é o mercado e a segurança jurídica apregoada pelo impeachment: uma tungada escandalosa nos sócios do aeroporto de Confins, em Belo Horizonte.
É jogada bilionária. Falta saber o que estão vendendo.
Na privatização, houve uma estimativa de crescimento da demanda de Confins, para fixação do valor da concessão. O país estava em fase de crescimento. Veio a crise e a queda da demanda – mas queda de demanda pela crise faz parte do risco do negócio.
Agora, o governo Temer decide reabrir Pampulha para vôos longos. É evidente que irá desviar vôos de Confins, arrebentando com o plano de negócio inicial e com qualquer veleidade de segurança jurídica.
Pela rapidez do negócio, por atropelar análises de outros órgãos do governo, é corrupção na veia.
Falta entender a lógica.
Pampulha é administrada pela Infraero, estatal. Obviamente o jogo não é para favorecer a Infraero.
Pode ser que esteja a caminho uma privatização rápida de Pampulha, mas é duvidoso que a corrupção caminhe por aí. Seria melhor privatizar primeiro, porque sairia mais barato. Depois, haveria a transferência dos vôos permitindo uma valorização pós-venda. E o dinheiro da propina sairia dali. Por isso, também não é uma hipótese sólida.
Resta a hipótese do achaque puro e simples, a criação de dificuldades para a venda de facilidade. Faz parte do modo de operação de Eduardo Cunha, o grande mentor de Temer. Uma multinacional estrangeira negou propina e Cunha tratou em embaraçar a operação com as armas que ele tinha na Câmara.
Tendo o controle do Executivo, o jogo fica imensamente facilitado.
Quando apoiaram o impeachment, Globo, Folha, Estadão, Supremo não sabiam disso? Evidente que sabiam. Mas, como diz o notável Luís Roberto Barroso, agora tudo mudou e a corrupção será extirpada da face do país. Mas é corrupção sem possibilidade de envolvimento de Lula. Então, tudo bem.
(Texto de Luis Nassif originalmente publicado no Jornal GGN)