CALÍOPE, A MINHA MUSA
Dize-me o que ora fazes tu, ó vate insaciável?
Por acaso dormes e sonhas com o impossível?
Ou caminhas dantescamente pelo impenetrável?
Ou regurgitas em palavras o incompreensível?
Deveras transportas tua nau pelo indevassável?
Deixas-te guiar por quem perscruta o insondável?
Vanglorias-te de depreender o que é inacessível?
Delicias-te, voluptuoso, ao granjear o que é volúvel?
Arrogas-te o poder de desvendar o imponderável?
Arrostas, destemido, a tribulação mais execrável?
Abjuras, sem exceção, o que te parece detestável?
Repulsas, inapelavelmente, tudo o que é abominável?
Defendes, de pronto, todos os que te são amáveis?
Deprimes-te ante os que sofrem vidas deploráveis?
Incomodas-te ao ter de votar em seres desconfiáveis?
Exasperas-te em face do agir de políticos desprezáveis?
Com que vã intenção? Com que frívolos propósitos?
Aventuras-te, cauto, a seguir íngremes caminhos?
Pretendes colher belas e olorosas flores, ó ínclito?
Arriscas-te a contrair desditosos males nos espinhos….
Louvo-te a disposição para alvissareiras conquistas,
Para novos saberes, embora entre ofuscantes luzes.
Proteges-te, porventura, contra eventuais desditas?
Percebes, por acaso, por que trilhas tu te conduzes?
Questiono-te, ó irrequieto e incansável vassalo,
Sem pretender provocar em ti sísmicos abalos…
Apenas te faço submeter-se a saudável imersão
No que de ti exijo para doar-te fértil inspiração.
Um conselho dou-te (Devo convencer-te?!):
Acercas-te de mim! E ser-te-ei útil, enfim!
Calíope: musa grega da inspiração na arte e na ciência.