Cães de família – por CAPABLANCA

Toda família tem seus cãezinhos, machos e fêmeas de todas as idades, tamanhos, desenvoltura e estilos. E eles nunca foram um problema, antes pelo contrário. Ultimamente, de uns meses para cá, é que eles começaram a mudar e a ficar cheios de opinião e valentia. Ninguém sabe como, mas esses cães podem ter sido inoculados por algum vírus feroz e ativo,  nocivo ao bem-estar comum. Há quem diga que a infestação aconteceu pelas redes sociais, como se isso fosse possível. Imagina! Há quem diga que isso tem algo a ver com a política. Já pensou? Os mais afoitos propõem que a nova atitude de ódio e intolerância dos cães da família tem conexão direta com o fato de que, finalmente, num sopro mágico e instantâneo, tomaram consciência profunda das coisas. E querem fazer uma revolução canina!

De um jeito ou de outro, o fato é que alguns cuidados são necessários para proteger a família e, numa certa medida, os próprios cães. A primeira orientação é a vacina contra a raiva, necessária, urgente e indispensável. É inadiável conter a propagação do ódio e da intolerância, eles podem contaminar toda a família e criar uma situação de “point of no return”. Podemos até ter uma guerra civil. Canina, claro. Mesmo que os cãezinhos não acreditem em vacina, encontrem uma maneira de convencê-los a tomá-la. A segunda recomendação é que sejam evitados os debates e as discussões sobre certas pessoas e certas questões. Já estão claras as questões que tanto perturbam os bichinhos, e é inútil tentar treiná-los, educá-los, simplesmente porque é tarde demais, o processo “de consciência” já está adiantado.  A terceira recomendação é mais radical e se aplica aos casos em que as duas medidas anteriores não produzirem efeitos: usem a focinheira. Não, não é, dadas as circunstâncias, uma violência e uma desumanidade. Não, e não é crime, neste caso específico – até um ministro da Suprema Corte recomendou a mordaça.

Não fazer absolutamente nada é também uma opção. É duro ver os bichinhos se mordendo, mordem até irmãos e irmãs, rosnando e babando de ódio e intolerância. Reconheçamos, cruzar os braços e ficar calados é uma escolha extrema. Neste caso, em algum momento, olhe-os nos olhos e diga-lhes que os ama e que por eles tem carinho. E afaste-se, dê-lhes tempo. Milagres acontecem.

O que vai acontecer a partir das quatro medidas é o seguinte: os cães de ferocidade mais avançada vão continuar buscando aqui e ali, nos meios de comunicação escolhidos e nas redes sociais de preferência a sua ração diária para alimento próprio e de estímulo à grosseria e à violência. Não, não tente impedir o acesso, você pode causar surtos incontroláveis. E isso seria censura. Tente deixar um livro fino e de letras grandes, cheios de figuras no cantinho onde eles dormem. Não, a bíblia não – eles vão direto para o Apocalipse, não é boa ideia. A noção religiosa deles apenas pisca e apaga com um pisca-pisca de carro, só que inútil. É a mesma noção de pátria. Eles acham que estão em guerra contra tudo e contra todos, e são capazes de dizer que são capazes de tudo em nome de algum deus e de alguma pátria, caninos, claro.

No mais, é torcer para que este vírus tenha um prazo de validade e de vida menor do que oito anos. Quando o problema aconteceu em outros continentes, como a Europa, a doença prevaleceu por décadas em alguns casos muito conhecidos e bem registrados pela ciência e pela história.

Pena que os cães não aceitem a ciência e não conheçam a história.

Capablanca

Ernesto Luís “Capablanca”, ou simplesmente “Capablanca” (homenagem ao jogador de xadrez) nascido em 1955, desde jovem dedica-se a trabalhar em ONGs com atuação em projetos sociais nas periferias de grandes cidades; não tem formação superior, diz que conhece metade do Brasil e o “que importa” na América do Sul, é colaborador regular de jornais comunitários. Declara-se um progressista,mas decepcionou-se com as experiências políticas e diz que atua na internet de várias formas.

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Ernesto Luís “Capablanca”, ou simplesmente “Capablanca” (homenagem ao jogador de xadrez) nascido em 1955, desde jovem dedica-se a trabalhar em ONGs com atuação em projetos sociais nas periferias de grandes cidades; não tem formação superior, diz que conhece metade do Brasil e o “que importa” na América do Sul, é colaborador regular de jornais comunitários. Declara-se um progressista,mas decepcionou-se com as experiências políticas e diz que atua na internet de várias formas.