Bruno Paulino – provinciano, menino do interior

Já ouviu falar na medida exata da simplicidade e na genialidade e resistência criativa nascente do sertão cearense? Bruno Paulino, devoto de São Francisco de Assis e leitor dos escritos de Santa Teresinha do Menino Jesus têm ambições mais que razoáveis: assim como o poeta Manoel de Barros, o filho de Quixeramobim também reformaria o mundo usando borboletas.



Bruno, vamos começar a entrevista falando um pouco da tua infância, onde nasceu, os tempos de escola, as brincadeiras.

Nasci em Quixeramobim, fui um menino criado tendo que todo fim de semana atravessar o rio Quixeramobim para visitar meus avós, que moravam do outro lado da cidade, essa travessia do rio é a lembrança mais forte que tenho do tempo de criança. Eu gostava de jogar videogame com meus primos e brincar na rua de futebol, sempre fui um aluno disciplinado, mas nada de excepcional.


Me fala como aconteceu teu encontro com a literatura.

Eu tenho um irmão mais velho, João, que teve paralisia infantil na infância, como ele não podia brincar na rua por conta das consequências da doença, meu pai conseguia para ele revistas, livros e historias em quadrinhos, então quando eu nasci a minha casa já era povoada por livros, foi fácil me tornar o leitor que sou. Desse jeito meu pai, um agricultor, com pouca escolaridade criou um escritor.



Agora conta mais de você nas perguntas a seguir:

• Em que outra época gostaria de ter vivido…
… Não sei dizer se gostaria de nascer em outra época, apesar dos pesares, gosto do nosso tempo, agora certamente eu desejaria nascer no Sertão, no Quixeramobim. Sou provinciano, menino do interior mesmo.
• A palavra que eu mais (menos) gosto
… A palavra que eu mais gosto é “passarim’’ e a que eu menos gosto é “burocracia”, burocracia é uma palavra imprestável para poesia.


• Um filme para ver de novo
… “Irmão Sol, Irmã Lua” de Franco Zeffirelli, a película narra a vida de São Francisco de Assis, que é o santo da minha devoção.


• Politicamente, eu
… Sou poeta. Progressista e entusiasta dos movimentos históricos de luta genuinamente populares, tipo: Canudos, Caldeirão, Palmares e por ai vaí…
• Quem você ressuscitaria?
• O Ganhdi, o nosso tempo precisa de um político como o Gandhi, firme nas suas convicções, tolerante e pacifista. Humanista, demasiadamente humanista.
• O livro que já li várias vezes?
Os Sertões, de Euclides da Cunha.


• Eu me acalmo
… Ouvindo música antiga.


• Eu me irrito
… Com burocracia.


• A emoção que me domina
… A ternura. Se eu presenciar qualquer gesto de ternura no cotidiano eu fico comovido como o diabo, como disse o Drummond.



• Um dia ainda vou
… Aprender a dançar forró. Esse é o meu trauma de adolescente, não saber dançar forró.



• Existem heróis? Qual o seu?
Minha mãe. Minha mãe é um mulherão da porra, é ela quem atravessa o sertão de mãos dadas comigo.
• Religião para mim é
… Importante, pois eu particularmente preciso acreditar no extraordinário. No mistério. No milagre. Sou devoto de São Francisco de Assis e leitor dos escritos de Santa Teresinha do Menino Jesus.



• Dinheiro é
… Vendaval, como canta aquele samba antigo. Como não tenho um tostão furado sigo em paz.



• A vida é …
… Uma travessia por entre duas eternidades.
• Se você tivesse o poder, o que mudaria?
Tanta coisa que nem sei por onde começar. Citando o Manoel de Barros: eu reformaria o mundo usando borboletas.
• Eu gostaria de ser
… Guitarrista de uma banda rock.


• Não perco uma oportunidade de
… Beber cerveja com meus amigos nos botecos.
• A solidão e o silêncio
… São duas formas – às vezes prazerosas – de estar comigo mesmo.



• O Brasil é
… Um país com um enorme passado pela frente, acho que foi o Millôr Fernandes quem disse isso, e eu revalido a opinião.



• O ser humano vai
… Destruir o planeta. É inegável que necessário se faz trocarmos o nosso sistema econômico – o capitalismo desenfreado – por uma alternativa mais sustentável e com distribuição de renda e igualdade social ou permaneceremos “condenados a civilização” como bem sentenciou Euclides da Cunha.



• Eu sou,
.. Um simples cronista da lendária cidade de Quixeramobim.

Minha mensagem é como disse Santo Agostinho, nessa vida é preciso esbanjar o amor, a amizade, a alegria, esvaziar os bolsos dessas coisas – e certamente teremos mais do que tinhamos antes.




Dentre os livros do professor, poeta, escritor, pesquisador Bruno Paulino estão as obras Lá nas Marinheiras (2013), A Menina da Chuva (2016) e Pequenos Assombros (2018) “Ofertório dos Pássaros” – poesias, “Os Milagres de Antônio Conselheiro”- cordel.

Heliana Querino

Heliana Querino Jornalista