Sobre Jaime Soares

Jaime Soares nasceu a 14 de Janeiro de 1987, em Vila Nova de Famalicão. É licenciado em Línguas, Literaturas e Culturas (Português/Inglês) e mestre em Estudos Anglo-Americanos (Literatura e Cultura), pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Em 2016, foi-lhe atribuída uma bolsa pela Associação Luso-Britânica. Por um período de um ano trabalhou no CETAPS (Centre for English, Translation, and Anglo-American Studies), Universidade do Porto, ajudando a desenvolver actividades culturais e académicas como, por exemplo, seminários com docentes e escritores, assim como sessões de cinema. Jaime Soares apresentou algumas comunicações em conferências no Porto, em Braga e em Boston (neste último caso, in absentia). A revista da Don DeLillo Society inclui um artigo da sua autoria intitulado “Don't blame the players, blame the 'system': a systemic reading of Don DeLillo's The Names” (2017). Em 2018, ganhou o Prémio Literário Germano Silva com a obra A cor verde (edição Editorial Novembro). Atualmente trabalha na indústria têxtil e lê e escreve nas horas vagas.

ENVELOPE

Um envelope dentro do quispo preto. Era Outono. Um hotel ao virar da esquina. A barbeira ia encontrar-se com um amigo. Há dias aquele fez-lhe um convite: posar para uma revista erótica. O tema da semana problematizava profissões em renovação

Bem-aventurados

Entrámos na capela do antigo convento branca e nua. Ao fundo uma sombra moveu-se com rapidez. Terei sido só eu a vê-la? Eu girei sobre os calcanhares e pus-me a olhar para uma mulher cheia de anéis ao meu lado.

Padres

Era meio-dia e ri-me às gargalhadas. Ou, melhor, foi de partir o coco. Eu cheguei atrasado a casa, por ter feito escala entre dois voos. Além do mais, não podia esquecer que o serviço de bagagem pecara, como se peca

MUNCH

A minha cabeça cheia de pó tomba para o lado. Já são 10h e nada acontece. Domingo, dia de Inverno, muita chuva, não se passa nada. Foge-me todo o sangue para o rabo. Eu estou nu, não me ergo do

BARCELONA

Após o joguinho de futebol na última madrugada, no Camp Nou, eu decido-me pela visita ao hostel logo pela manhã. Assim foi. Gràcia City Hostel. Isso. Com acento grave e tudo. Há postes de iluminação ao fundo da rua. Só

ÁLCOOL

Jaime Soares gargalha daqui até à lua. Hoje, o seu pai, a quem como alimento deram sobretudo ruindade, põe os pés ao caminho para deixar o álcool. A pele brilha, mal se senta para conversar com o pai sobre uma

CORES

O artesão conduzia um carro vermelho. Ford coupé, 1940, tubo de escape roto. O dia aparentava estar soalheiro e barulhento como tudo. O seu destino era o Hotel Cordelinho, na Baixa. O artesão, que tinha óleo nas mãos, gritava obscenidades

Vidas

No sofá do seu avô não sabia bem como se soltar do abraço daquela que era sua prima afastada. Ali ambos transpiravam há mais de uma hora. Havia sorrisos. O abraço sem roupa parecia um ritual sem palavras. Eram oito