Sobre Airton Uchoa

Escritor, leitor e sobrevivente.

POÉTICA

Ama apaixonadamente
O fazeres sem sentido;
Aborrece a opinião pública;
Que te cause náusea o próprio público;
Foge do elogio, agradece a crítica feroz,
E te rejubila com a indiferença.
Queixa-te do amor por doloroso em ti,
Mas sem ressentimento te separa
E dedica teu ressentimento coitado
Ao retiro

OS TANTOS PRIVILÉGIOS DOS POBRES

Fortaleza, 1 de dezembro de Dois Mil e Nunca.
Não precisamos de justiça para os pobres;
Os próprios pobres, coitados, não carecem
De justiça. Querem confundir suas cabeças?
Pobres mal disciplinados nascem desses
Excessos de direito. Democracia mesmo,
Quando foi que alguém pediu além
De artistas deslumbrados,

GAY-LUSSAC

Homem bêbado, à noite,
Sem medo da chuva e do relógio,
Esquecido das mulheres e desejo. Ébrio homem,
Com seus resquícios de civilidade e dinheiro
Amarrotado, bem poquinho.
Quando o sol vier mal saberá do dia que passou;
Quando o sol se for também as últimas

LÍRICA LUSITANA

Pois também já fui paneleiro, ora,
Que para ser teu amante completo
Era preciso que, feminino, me pusesse
No teu lugar e na tua posição. Pois,
Passivo, ativo, aéreo, fui também
Paneleiro. E senti na face nua
O cuspe rançoso e grosso da chamada sociedade
E ouvi

CHANSON D’AMOUR

Para Andrea Rossati
Angustiantes,
Repetitivos,
Sensuais
Arranjos de contrabaixo acústico
Em jazz
Na noite sonhada da capital do estado sertanejo;
Enquanto isso,
Indiferente à música ou
Ao som de outros acordes,
Na esquina da avenida,
Ela espera,
Feito os sábios,
Pelo que pode vir
E pelo que não virá nunca.
Apostou mais uma vez,
Dados e

NUNC

Par’ além do sempre, sempre o nunca
Preciso mastigar o alho entre os dentes em nome da imortalidade
Embora para além do sempre, sempre o nunca
Espero que me esperem os amigos que espero
Pois para além do sempre, sempre o nunca
Preciso morder a

UBERIA

O mundo é um lugar adverso em que
A mesma terra que lhe dá nome seca ao
Fogo e ao tempo. O próprio amor, Deus,
Não vai além das parcas esperanças dos
Imbecilizados olhos, feito o dito do
Antigo sábio do mais silencioso
Cristianismo. Quem me

Um aforismo respirável de Pascal

Mas como é que se explica saudade?
Como é que se explica a coisa
Que nunca tem sentido e sempre tem razão?
Como é que se explica o ar quando se respira
E como é que se explica quando falta?
Surgiu feito uma planta inesperada;
Feito

INCONFIDÊNCIA DA BARRA DO CEARÁ

Para Reginaldo da Silva Domingos, Metafísico chamado, e os seus,
Para Rafael Caldas Moreira, em desertos o Chacal,
Para Loreto e Marlon, nos oceanos e fora deles, ahoy,
Pois que mesmo no asfalto é oceano a vida,
E vale nos aléns a profecia do