GSQ

Foi no meu peito que a Rainha morreu; Isso faz tempo, o trono posto, disponível, Herdeiro nenhum; nem os aventureiros De costume e tradição, apareceram Aos portões já abandonados e sem respeito. Nem os abandonados da vida desejavam O Palácio; nem os revolucionários lembravam De pôr fogo ao símbolo mais físico do poder. Quem, Aliás, […]

Férias escolares

Temos pouco tempo. Os prazos mais longos são uma prova disso das mais eloquentes. Haveria uma eloquência no tempo? O tempo em si, a passagem cronológica e absurda de cada fragmento mencionável e a sua contagem, regressiva ou não, em si mesmo não quer dizer muita coisa, aliás, não quer dizer, não precisa dizer e […]

QUE MÁS QUIERES, QUIERES MÁS

Um homem bruto, do passado, hoje já morto. Diz que quando tinha raiva de tudo que não podia resolver quebrava os dentes, os próprios, dele, batendo pedras grandes contra a boca. Ele anda. O homem de quem ouviu falar ouviu falar também que já morreu. Um golpe de chave de fenda. Ele dormia num ferro […]

AS PEDRAS E OS DENTES

As pedras e os dentes, as pedras e os dentes, as pedras e os dentes. Ele caminha. Poderia ser uma mulher que buscasse no meio fio vestígios de plástico que pudesse acumular pensando em trocar por centavos. De grão em grão. Mas é um homem. E ele pensa que já desistiu. Pensa: poderia bater com […]

O DESTINO, SUA ESCOLHA

“Quando eu ainda achava que escrever era uma prazer”, diz mais ou menos Michel Foucault quase no fim do seu curso inaugural em algum lugar importante do Ocidente, institucional, pesado, definitivo, responsável por discordar muito a sério das chamadas verdades eternas. Eu, jovem universitário, com a edição da tradução da Loyola, um livro curto de […]

MARINHEIRO CORAÇÃO

Para ler Ulisses O mar diante dos olhos A gelada cerveja dos heróis O hidromel Gente professora Aprendente como ensinante Que vê ao longe A linha divisória entre céu e mar Tão bem definida como se desenhada Abre os ouvidos para a leitura primeira Abre a mente para a segunda Abre o coração cínico-e-não para […]

GRÃO: DRAMA MÍTICO-GENÉSICO DE RUDINEI BORGES

O conhecimento – impossível – do Início é, no máximo, o conhecimento do paradoxo. As coisas não existiam e passaram a existir, do nada, em algum momento, mas tudo têm uma origem, uma anterioridade necessária, algo de que se tenha transformado. Ou: as coisas existiram desde sempre e sua única mudança, apenas aparente, é o […]

MINERAL FETICHE NU

Fetiche nos ad te: acreditamos Porque sonhávamos sim Que éramos desejados E até mesmo a glória De que éramos objetos Cada coisa exemplo apenas de si mesma Inda que da linha de montagem saída Alheia às muitas mãos de gente que a fizeram Ou das muitas engrenagens maternais Quase amorosas que a moldaram. O mar […]

A CORRUPÇÃO COMO PRIVILÉGIO E SUAS ESTRANHAS RESERVAS MORAIS, EM VINTE E UM AFORISMOS NA SUPERFÍCIE CÍNICOS, ESCRITOS POR UM HOMEM CANSADO

“History, Stephen said, is a nightmare from which I am trying to awake.” (James Joyce, Ulysses) I Ninguém defende mais ardorosamente as regras do jogo do que o trapaceiro. É apenas por aprendizagem ou desafio pessoal que, de propósito, um trapaceiro enfrentaria um adversário também trapaceiro, e isso já seria bastante imprudente e insensato (uma […]

AQUELE LIVRO, O “U”, DE JAMES JOYCE, AOS CEM ANOS E DUAS HORAS

Há livros santos, sagrados, de se ler com medo, De sempre limpas mãos e joelhos sobre grãos agudos; Livros que os mestres não permitem aos mal iniciados, Pois dependem de uma vida em gabinete. Há, porém, Livros outros, diferentes, que de tão à-vontade fazem Não-pensar em muitos cadeados de razão e fichas várias De empoeirada […]

RESPOSTA TARDIA

Onde nos confessamos a essa hora da noite? Mas por que pergunto pela noite? Quando Amanhecer ainda não terei feito a confissão; O sol, se houver sol, vai ser uma tortura Sobre a cabeça pesada, pensante, culpada; A chuva lembrará a tristeza. Ainda quererei Confessar, ainda que os pecados não venham À memória e à […]