Deusa distante gente
Eu desejo o desejo dum desejo
Uma justificativa um eco
Solitário quarto de despejo
Saída impossível do meu ego
Eu desejo o desejo dum desejo
Uma justificativa um eco
Solitário quarto de despejo
Saída impossível do meu ego
Em agosto que vem te amarei
Feito no mês anterior e depois. Agradeço
Às coisas vivas da vida o contigo
Encontro. Pergunto o que de mim,
Tão pobre, se não fosse
O teu sorriso de praia e tua pele
Plena, escura, cheia, bonita. Eu
Quero, do verbo
Enquanto o vento levava as latas de cerveja
E os moços falavam de política,
Muito inteligentemente, aliás,
Eu pensava no quanto te amo
— Roberto cantava no toca-fitas —,
E me imaginava, pobre de mim,
Dançando pra ti num próximo futuro,
E pra ti tirando minha roupa,
Peça
Eis, morto aos teus pés, o tempo imóvel,
Inocente, pego de surpresa, feito uma criança prodígio
Que morresse de tifo sem realizar esperança alguma
Nem frustrar de uma outra forma as cruéis expectativas
Ou de fraqueza, muito antes da possibilidade das palavras,
Ainda mais absolvida
Sob a sombra da tua ausência
Penso em nunca mais dormir
Até que o sono vem. Penso em
Já não comer e a fome assalta. A sede
Me surpreende com suas urgências
Uma correnteza inesperada me derruba.
Acreditei que esqueceria os dias
E me chamaram as obrigações
A corrosão inerente começa quando adiamos as coisas, quando começamos a negociar com o tempo de uma forma que o tempo não permite: o tempo feito o mar não tem cabelos, mas também, igual ao mar, não tem uma cara
A literatura é o sorriso de uma sociedade — banguela: somos todos meio filhos do escorbuto (ai, a súbita vontade inexplicável de fazer essa declaração no mais dantesco toscano). Uma bela pobreza em preto e branco, sob uma crua luz
O EDITOR NO CASTELO
A heráldica da editora dizia: “As árvores se acabam”. Em certo momento, a placa com a frase anunciava a entrada de um prédio vazio: o editor, tirano, tinha se mudado e instalado sua editora numa caravela. Submetia
Eu preciso de uma pá e de um terreno ermo; não tenho dinheiro: mesmo a mais simples coisa — Deus, uma pá — escapa das minhas possibilidades financeiras: é a vida típica do escritor brasileiro, não tem dinheiro pra enterrar
E por que não o desejo também, da morte, da loucura, da solidão? Quem foi que disse que o desejo e o medo se anulam? Esse não seria um dos nomes proibidos do amor?Como se existissem nomes proibidos. Tudo cabe
Ser escritor é apenas ser como todo mundo e temer a morte, a loucura, a solidão, ter essa vontade de voltar para uma casa que não é nossa, que não sabemos onde é, que não existe. A diferença é que