As paredes cinzas, por Weluilson Silva

Desde os primórdios o homem traz consigo uma vontade de se expressar por meio da pintura, riscando paredes e cavernas. Os primitivos tentavam demonstrar a vida na sua comunidade, através de desenhos pouco elaborados, deixando impressos nas pedras seus rituais e atividades. No entanto, não se percebe nenhum tipo de manifestação por insatisfação política ou social.

Depois de milhões de anos, a sociedade evoluída tenta por intermédio das pichações em patrimônios públicos e privados exercer o papel de cidadão crítico, em sua revolta política. Algumas pichações podem expressar uma ideologia e pensamentos filosóficos bastante úteis, e até podem levar a uma idéia e fazer pensar, enquanto outros apenas servem para poluir a visão de quem olha. Visto que muitos pichadores são adolescentes ociosos, de acordo com os jornais, seus conteúdos nem sempre são úteis. Estudantes que gostam de fugir da escola, e jovens que preferem perder as aulas da faculdade de filosofia sempre querem ser ouvidos (ou vistos, como é o caso nas pichações).

Há quem diga que pichação é a arte expressiva de revolucionários, mesmo que esses revolucionários não saibam o que estão fazendo. A beleza está nos olhos de quem vê, mas nem sempre quem olha gosta. Um patrimônio depredado não chega a ser uma coisa bonita de se ver, muito menos quando não tem nada para transmitir.

Não existe comparação entre pichadores e grafiteiros; uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como diz o popular. Existe um imenso abismo para comparar a arte do grafite com a pichação, pois uma precisa de técnica e habilidade, e a outra qualquer vândalo pode fazer. Todavia, os grafiteiros não podem fazer manifestos artísticos sem a devida autorização dos proprietários. Por lei, as pichações são consideradas crimes, enquanto os grafites ainda são considerados artes, desde que autorizada pelo senhorio do local de exercício.

O prefeito de São Paulo João Doria mandou cobrir de cinza todas as pichações e manifestos grafitados, e isso gerou uma revolta nas redes sociais por parte dos defensores desses manifestos. Doria, no seu primeiro mês de mandato, contratou profissionais para limpar a cidade, e assim tirar todo e qualquer excesso de cores dos prédios e patrimônios públicos.  Pichações foram retiradas de monumentos considerados cartões postais da cidade.

Para os daltônicos, São Paulo continuará cinza, assim como já era o céu daquele espaço — agora as paredes também. Não se pode criticar um prefeito por querer limpar sua cidade, nem por querer fazer seu papel. Haja vista que muitos nem ligam para o que acontece na sua cidade, e muito menos vão às ruas ver de perto o trabalho sendo executado.

Cinza é uma cor que representa o recomeço, e toda parede cinza merece um novo colorido, mas nunca uma pichação. Diga sim aos manifestos artísticos. Pichação ao patrimônio público é crime, e não arte.

Weluilson Silva

Publicitário, graduado em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) pela Fanor/Devry, Escritor amador/ Romancista (em processo de publicação). Mestrado Incompleto de Gestão de Marketing pelo Instituto Português de Administração em Marketing (IPAM).