Há alguns indícios de que o Poder Judiciário não pode recuar dos avanços que fez nos últimos anos para permitir que algumas mudanças políticas decisivas acontecessem dentro das varas e dos tribunais, já que teimosamente eram rejeitadas nos processos eleitorais. Misturaram-se leis e discursos, juízes e mercado, fins e meios, e tudo relativizou-se. Em menos de três anos o combate à corrupção corrompeu tudo. Desmoronou o edifício institucional com base na lei. Isso foi feito e confirmado. Prego batido, ponta virada.
O Congresso Nacional tem a composição finalmente adequada para agir e votar sem freios de coerência e convicção. O Parlamento odeia. O legítimo interesse popular é facilmente relativizado e posto de lado. Assim, as corporações empresariais (e suas entidades com sede e atuação regional) podem atuar para, digamos, convencer os parlamentares a seguir a agenda.
A imprensa está sempre afinada. Ninguém sabe exatamente se ela adere ou comanda, se seu papel é condjuvante ou protagonista. De uma forma ou de outra, ela é decisiva. A agenda que não passa por debate eleitoral e legitimação do voto precisa da sustentação da informação e da opinião publicadas e exaustivamente repetidas. As pessoas podem resistir, mas com o tempo e a insistência cansam e cedem. A imprensa brasileira tem know how nesse tipo de processo.
O Ministério Público é a instituição desenhada para ficar imune a pressões de qualquer tipo, políticas. financeiras, administrativas e legais. Teria tudo para ser rigorosamente exemplar, quadros, recursos, suporte institucional, proteção legal. Entretanto, escorregou em algum momento e em alguma casca de banana e foi tendo que ceder aqui e ali, compor com A e com B, aceitou objetivos e metas que não deviam ser suas e caiu numa espécie de sinuca. Complicou tanto a situação, tornaram-se tão complexas suas circunstâncias, foram tantas as concessões que agora está difícil recuar e recompor-se. Quem sabe depois da próxima eleição. Ou reeleição. Interna e externa.
O Poder Executivo escolhido (em eleições atípicas, sem debate, sem projeto, sem propostas, sem agenda, sem compromisso, com fake news e facada) fez uma opção por uma agenda de desconstrução. Parte de um desconhecido, inusitado e obtuso diagnóstico ideológico. Dizendo-se contra qualquer viés ideológico, está agindo de forma fanaticamente ideológica. Não há planos nem projetos coerentes e consistentes. Não há estratégia de país. Não há nada além de slogans e de uma lista de instituições já sendo enfraquecidas – universidades, estatais, sistema financeiro público, educação básica, financiamento da cultura, estruturas sindicais e justiça trabalhista…
Partidos e sindicatos, coitados, estão devastados.
Não dá para pedir ao povo que vá às ruas ( por mais que uma boa parte dele tenha em tudo isso alguma responsabilidade), sobretudo se não há uma liderança e uma proposta com legitimidade. O quadro já é dramático e pode piorar, infeliz e inevitavelmente caminha para piorar.
Antes que tudo seja desmontado e destruído, a quem reclamar?
Sobra o Bispo. Vamos reclamar do senhor Bispo e pedir alguma providência. Rápido.