ÁGUA

Quando há seca
É nó na garganta
Espanta
Gente bicho planta
Nem almoço nem janta
Nem passarin canta
É chão rachado
Coração seco, esturricado
Ah meu peito maltratado

Quando é cheia
A coisa é feia
Arrasta tudo pelo ar
E pela areia
Torrentes d’água
Enchentes de mágoa

Lá se vão a casa, o menino
O meu destino
Lá se vão a cidade,
Meu chão, a TV, o meu colchão
Fiquei só com meu gatinho
Eu e ele tão famintos
Desolação é o que sinto
É pesadelo, não minto

Houve aviso
Mas eles não tem juízo
Oh Pai, perdoa
Perdoar é precioso
Mas é preciso?

28/05/2024
Dora de Paula

Dora de Paula

Maria Auxiliadora de Paula Gonçalves Holanda, doutora em educação-UFC, mestre em Educação-UnB, Arteterapeuta- Instituto Aquilae, escritora e compositora.