Não é fácil. É preciso começar qualquer reflexão sobre a amamentação com essa afirmação, por mais “negativa” que pareça. É preciso afirmar o óbvio: não é fácil.
Amamentar, para mim, é sobretudo, doação. Nem toda mulher precisa estar disposta, nem toda mulher precisa se sentir feliz por amamentar. Nem todo corpo vai se adaptar. O leite que sai e nutre não sai de forma “automática”. Como tudo relacionado à fisiologia humana, corpo e mente precisam caminhar juntas, trabalhar juntas.
E nem toda mulher teve a gravidez dos sonhos.
Nem toda mulher teve apoio, nem toda mulher planejou o bebê. Há uma infinidade de possibilidades, das mais perversas muitas vezes, e há uma infinidade de dificuldades. A questão é: você não precisa querer amamentar. Mas a informação é um direito.
Muitas mulheres desistem de amamentar por falta de informação e, principalmente, falta de apoio. Não é raro, em partos hospitalares, o bebê ser tirado nos primeiros segundos de vida de perto da mãe e não ser dado a possibilidade da amamentação na primeira hora de vida. Também não é raro não ser explicado que o leite não sai assim que o bebê nasce, que é um processo e que é, por muitas e muitas vezes, bem dolorido.
Esse início é crucial. E é justamente nesse início que muitas vezes, a mulher desiste. Mamadeira, fórmula, chupeta. Tudo vem como “presente”, de família, amigos ou qualquer outra pessoa bem intencionada – isso pra não falar do aparato midiático de publicidade e propaganda que trata do assunto! É assim que já há tempos, viemos aprendendo sobre o que é certo em se tratando de bebês e amamentação. Se o bebê chora, briga com o peito, deve ter algo errado com a mãe, é melhor dar chupeta! E assim, quase sempre, o não incentivo começa da boa intenção de quem quis ajudar.
Entretanto, para além do fator nutritivo, amamentar é ocitocina. Hormônio do amor. É tato, conexão e por tantas vezes, infelizmente, acaba sendo privilégio.
Quando penso no agosto dourado e nas campanhas de incentivo a amamentação, penso nas mulheres que por diversos fatores não puderam amamentar. E nas que não quiseram também. É preciso dizer que tá tudo bem. Que a luta primordial é pela informação e apoio ao aleitamento materno contra as grandes indústrias que lucram com fórmulas, mamadeiras, chupetas e que, justamente por isso, pouco contribuem na conscientização da importância do leite materno para o bebê. E na necessidade do apoio contínuo à mulher que decide amamentar.
Amamentar, para mim, foi e está sendo um importante processo de autoconhecimento. Um lidar com os novos significados do meu corpo e, não foi fácil, de início. É um novo corpo, o que amamenta, pós-parto, pós-nascimento da mulher-mãe. Fernando e eu precisamos encontrar nosso próprio jeito de interagir, conectar, se encaixar.
Amanhã ele completa 8 meses. 8 meses de aleitamento materno em livre demanda.
E sigo.
Enquanto me sentir bem e for, para ele, uma necessidade, seguiremos. Há dias mais difíceis que outros, mas, tenho observado que a tal da maternidade real é também a não romantização das possibilidades que a maternidade me traz. Amo amamentar, mas amo, principalmente, porque, com base em toda a informação e apoio que tive, pude escolher “o amamentar”.
Que a luta pela informação qualificada, incentivo ao aleitamento materno e não dominação sobre os corpos femininos – sejam eles de mulheres-mães ou não – seja uma constante, para além de agosto. Que possamos lutar e sonhar com uma sociedade bem informada, livre e humanamente diversa.