A viagem do Bebê Aaron

Era uma vez um lindo bebê que habitava uma casinha pequenininha e bastante segura. De vez em quando seu lar balançava de um lado para outro e lá dentro o bebê chacoalhava.

De lá era possível ouvir muitos sons. Eram ritmados e se assemelhavam a maquinários de uma fábrica que nunca cessa suas atividades.

Aqueles sons, porém, em nada desagradavam. Eram música para aquele pequenino bebê.

Lá não existia noção de tempo, nem mesmo de espaço; nem de quente ou frio; nem de claro ou escuro; nem de dentro e fora.

Era completo o seu lar.

Cercado de água para todos os lados. Aaron não tinha nenhuma necessidade que sua amorosa casinha não pudesse cumprir de pronto. Era pura felicidade.

Algum tempo se passou, não se sabe em exato quanto. Talvez em algum lugar alguém até tivesse inventado uma medida, mas para Aaron essas coisas não eram de grande importância… nem de pequena.

Aos poucos Aaron notou que podia tocar as paredes da sua morada. Foi então que ele percebeu o quão seguro era seu espaço, pois estava também dentro de um balão.

O que lhe tirou a calma foi perceber uma dinâmica própria do seu lar. Alguma coisa mudava constantemente em seu espaço e Aaron não sabia ao certo se sua casinha diminuíra ou se ele mesmo era quem havia crescido.

Aos poucos novas sensações invadiam sua morada. Outros ruídos, além do maquinário já conhecido, passaram a habitar também seu lar. De repente, não mais que de repente, aquele bebê começou a ouvir outros sons: que estranho! Sua querida casinha parecia também estar viva. E ela estava!

Aos poucos foi começando a compreender o aquele barulho constante vindo de fora significava: eram vozes e conversavam com ele.

Ele tentava responder, mas não sabia ao certo quais ferramentas utilizar. Olhou atentamente aquele espaço e viu que lá no alto, perto agora de onde estavam seus pezinhos, tinha uma estrutura em formato de arco. Resolveu então empurrar. Alguém do lado de fora disse – “Ai”! Deu certo, pensou ele. A partir daquele dia aquela se tornara uma forma efetiva de comunicação entre Aaron e as vozes.

Aaron cresceu, cresceu e cresceu. Se viu apertadinho naquela casinha que outrora havia lhe acolhido tão bem. Ouviu as vozes dizendo que ele teria que se mudar.

Algumas daquelas vozes eram tão doces que Aaron se alegrava ao ouvi-las. Sentia aconchego e segurança.

Foi então que sua casinha começou a apertá-lo. Ela parecia querer expulsar aquele bebê. Aaron não entendia. E uma voz lá fora repetia – vem, Aaron! É preciso conhecer o mundo. Nós te aguardamos aqui do outro lado.

Ele pensou que aquela poderia ser uma boa ideia, mas não sabia ao certo como fazê-lo. Percebeu então que seu corpo começou a descer, existiria ali uma saída? Como era possível? Ele conhecia aquela casinha mais do que ninguém e nunca havia notado uma passagem antes.

Não fez mais perguntas, era preciso aceitar que seu antigo lar já não lhe suportava mais. A água que estava em sua volta começava a esvaziar. Tudo havia mudado lá dentro. Aaron resolveu preparar sua mudança também. Percorreu aquele caminho apertado. Parecia que não ia conseguir, quando finalmente escorregou, alguém o segurou.

Tudo era novo e diferente. Aaron respirou o ar pela primeira vez e percebeu que ocupava agora uma casinha bem mais espaçosa e soube também que era preciso tempo, tempo para aprender a lidar com seu novo espaço e suas novas habilidades.

Luana Monteiro

Cientista social, mestre em Sociologia (UECE) e pesquisadora.

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Luana Monteiro

Cientista social, mestre em Sociologia (UECE) e pesquisadora.