A tensão da guerra

“A guerra é a coisa mais desprezível que existe. Prefiro deixar-me assassinar a participar dessa ignomínia.”

Albert Einstein

​As mesmas questões que levaram o mundo às duas guerras mundiais no século XX estão presentes na tensão de guerra dos últimos dias envolvendo um novo bloco de países: a Rússia e a China de um lado, e o ocidente do outro.

​É a velha e abominável luta pela hegemonia econômica de uns sobre outros.

​Esta é a melhor tradução do que seja capitalismo: é isto!

​O que se observa no microcosmo de qualquer cidade capitalista, na qual os pequenos comerciantes lutam entre si para que sobrevivam uns e morram os outros, e todos terminam por sucumbir perante um capitalista maior, de fora, como força de indestrutível enfrentamento, reproduz-se no campo internacional.

​A primeira guerra mundial derivou do interesse insano da Alemanha de dominação da Europa, por se considerar tecnologicamente superior em face da revolução industrial que se desenhava na Europa.

A segunda guerra mundial derivou da primeira e dos mesmos interesses, com um adicional racista acentuado.

A Alemanha, que se recuperava dos danos sofridos pela perda da primeira guerra, que submeteu o povo germânico à penúria e o país viu a anexação de áreas de sua influência serem tomadas pelos vencedores da guerra, nutriu um desejo de vingança que foi politicamente aproveitado pelo sentimento nazista belicoso, xenófobo e racista, que pregava a necessidade de espaço vital e uma estúpida superioridade ariana.

O vírus desta insanidade desumana (que se instala entre os humanos tal qual uma peste sanitária altamente letal), e que tomou forma desde a primeira revolução industrial, chama-se “capitalismo”.

Agora a geopolítica capitalista toma novos contornos e com o agravante de que a guerra convencional, de ocupação militar terrestre, com apoio marítimo e aéreo, pode derivar para uma altamente destrutível guerra nuclear.

O que se observa no estágio atual da vida capitalista one world, é a impossibilidade de sua expansão, que mais do que nunca se tornou socialmente destrutiva, ecologicamente suicida, e estruturalmente autodestrutiva de sua própria forma e fundamentos enquanto modo de relação social, que se tornou inviável.

Os Estados Unidos e o ocidente europeu, que nos últimos cem anos experimentaram os benefícios de suas hegemonias política e econômica e veem o feitiço se virar contra o feiticeiro. É no altar do sacrifício humano, o mercado, onde a autofagia se processa.

Como dissemos no início deste artigo, o capitalismo é uma forma de relação social fratricida. Sofre do que chamo de “síndrome do tucunaré”, que é um peixe predador que nos açudes engole todos os outros até exterminá-los, e então, por não ter alimentos a serem explorados, se autodestrói.

O capitalismo, ao introduzir a tecnologia de ponta na produção de mercadorias, decretou, em maior parte, o desuso do trabalho abstrato (trabalho vivo, capital variável, Marx), substituído pelo trabalho das máquinas (trabalho morto, capital fixo, Marx) e, assim, reduziu substancialmente a massa de valor global produzida, tornando inviável a mediação social sob sua lógica.

Vence, agora, quem aplica tecnologia e trabalho escravo (ainda mais explorador do que o anterior) na produção de mercadorias. Esta é a receita da China capitalista para se sentir autorizada a propor uma nova hegemonia política e econômica para o mundo. A Rússia como seu satélite.

Entretanto, a “síndrome do tucunaré” permanece ativa.

Se os Estados Unidos e a Europa veem as suas moedas perderem substância, e veem suas empresas serem obrigadas a transferirem as suas unidades de produção de mercadorias para as regiões de trabalho escravo, o novo bloco geopolítico formado, com a China à frente, precisa vender suas mercadorias para manter o crescimento do PIB que tudo financia (inclusive os juros de sua colossal dívida pública para com a sistema bancário internacional).

Não há como resolver tal questão nos marcos do capitalismo!

Diante do impasse que se prenuncia como irresolúvel, que aponta para um crash de todo o sistema capitalista, a solução que estes senhores do capital encontram não é outra senão a destruição de contingentes humanos tornados supérfluos para a sua lógica funcional.

Sob o capital quem não produz valor não serve para viver.

A ocupação da Ucrânia, país que secularmente sofre por se situar geograficamente na fronteira entre a Europa, Eurásia e Ásia, é apenas a ponta de lança de um sentimento e interesse muito maior: a guerra por hegemonia econômica global e a implantação de um novo padrão de moeda internacional que sirva de referência para a nova configuração da produção de mercadorias e sua comercialização internacional.

A Ucrânia é o chamado “boi de piranha” nesta história, para ficarmos ainda na metáfora dos peixes.

O componente novo nesta velha história de luta e beligerância dos países (e isto também é nacionalismo de patriota idiota) por hegemonia política e econômica, é a capacidade de uma hecatombe nuclear.
São muitos os países que hoje detêm a capacidade de produzir bombas atômicas que fazem aquelas que foram despejadas em Hiroshima e Nagazaki parecerem traques de festas juninas.

Como disse num artigo anterior, sempre fico pensando no que fariam Adolf Hitler e seu cruel plenipotenciário Ministro da Comunicação Joseph Goebbels, que se suicidaram com suas mulheres e este último envenenando seus seis filhos menores, ouvindo os estrondos das bombas do exército vermelho que avançava, se pudessem apertar um botão da bomba atômica e destruir a humanidade?

A verdade é que a humanidade precisa compreender claramente o que está em curso. Fomos viciados em dinheiro, mesmo sem compreendermos claramente a sua dinâmica, essência constitutiva e processo contraditório autodestrutivo, destrutibilidade social, e seu conteúdo segregacionista intrínseco.
Entretanto, tal como um toxicômano, que busca no consumo da droga, causa do seu infortúnio, a solução da sua crise de abstinência, buscamos no dinheiro (daí a unanimidade entre direita e esquerda, na proposição de retomada do impossível desenvolvimento econômico) a solução de quase todos os nossos problemas.
Queremos curar o mal com mais doses do próprio mal, e que está cada vez mais escasso. Assim, estamos feitos…
Precisamos fazer um levante em defesa do povo ucraniano espremido entre as ondas violentas e o rochedo contra o qual elas se debatem…

Urge que a humanidade saia da letargia comportamental que a flauta mágica do fetiche capitalista lhe impõe, e saia dessa rodada de jogatina insana, e não aja tal qual um jogador viciado de baralho, que no afã de recuperar um prejuízo anterior, aposta tudo que lhe resta e vai à bancarrota suicida.

Urge que defendamos e introduzamos uma nova ordem mundial, transnacional, de concórdia entre os povos e que recrimine a política e seus governantes manietados por uma lógica fratricida que os ungiu ao pode vertical (constitucionalmente elitista) que desfrutam.

A direita nazifascista precisa ser combatida e exorcizada; e a esquerda politicamente correta precisa deixar de se situar apenas num espaço geopolítico submisso e predeterminado pela capital, tentando em vão humaniza-lo covardemente, e se situe na plenitude que o melhor discernimento da nossa racionalidade humanista está a clamar e reclamar!

Urge superarmos o capital!

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