A sociopatia a serviço do genocídio

Psicopatas estão sempre entre nós. Em tempos tranquilos nós os examinamos. Em tempos difíceis eles nos governam.”

Ernest Kretschmer, psiquiatra alemão (1888-1964)

A ciência médica ligada à psicanálise define como sociopatia a ocorrência de transtornos comportamentais manifestados num comportamento antissocial. Não no sentido tradicional, apenas da dificuldade de relacionamento pessoal com seus semelhantes, mas no sentido de conduta individual insurgente a partir da quebra de regramentos ou tomada de decisões impulsivas sem que o agente se sinta culpado pelos danos que causa.

Tal comportamento pode resvalar para atitudes criminosas com falta de consciência social. Quem você identificaria, hoje, no Brasil, com este perfil?

Certamente que você pensou no mesmo personagem que eu, a menos que esteja tão incapaz de reconhecer nas atitudes do nosso personagem tal enquadramento. Neste último caso é você quem está precisando de psicanálise que lhe permita fazer uma autocrítica sem se sentir idiota ou culpado.

Para que você tome consciência do que estamos sendo vítimas no Brasil, com um timoneiro desastrado em meio à uma tempestade mundial, vamos aos fatos.

Depois de uma ano pífio em termos de economia e negação das promessas de campanha, e marcado por conflitos de relacionamentos entre sua equipe de governo, tivemos um 2019:

– um PIB – Produto Interno Bruto de 1,1%, menos do que o ano de 2018, que foi de 1,8%;

– nenhuma privatização relevante de empresas públicas como havia sido prometido;

– surgimento de denúncias de comportamento da velha política praticadas pelos políticos do baixo clero, que não têm prestigio para a corrupção grossa (as rachadinhas de salários de funcionários fantasmas);

– prisões e mortes de notórios milicianos que em momentos anteriores foram homenageados pelo clã que assumiu a Presidência da República, com empregos de familiares e honrarias dessas com as quais o poder legislativo costuma presentear os seus acólitos;

– emprego generalizado de militares da reserva para cargos técnicos, substituindo os profissionais especializados;

– conflito entre o nacionalismo militarista patriótico estatizante e o liberalismo clássico daquele que fora apelidado de Posto Ipiranga e gestor absoluto da economia brasileira (o empresariado da Avenida Paulista acreditou nesse pato).

Veio o ano de 2020 e a pandemia. Aí evidenciou-se de vez a idiossincrasia que apenas se delineava. Vamos, novamente, aos fatos.

Ainda em março de 2020, quando surgiram os primeiros casos de mortes no Brasil por infecção virótica do covid19, que surgira na China (pelo menos como informação original), o Presidente Boçalnaro, o ignaro, afirmou que:

“as mortes por coronavírus não serão maiores do que as que foram provocadas pelo H1N1 no ano passado”.

Esta foi a primeira afirmação negacionista, feita por quem não tinha base científica para fazê-la, vez que não fez nenhuma referência ao recebimento de análise ou testemunho de qualquer profissional da área, mas apenas movido por intuição pessoal.

Neste momento (dia 09 de março de 2020) já eram 941 motes, quase 150 a mais do que as 746 que aconteceram de 2019 por H1N1. Errou por ignorância ou manipulação da informação? Se você cravar as duas hipóteses tem grande chance de acertar.

Nesse momento afrontou a ciência pela primeira vez (como continuaria a fazer, sem o menor pejo), caminhando livremente pelas ruas de Brasília, contrariando o seu próprio Ministro da Saúde, médico, que teve que engolir calado a contradição entre suas ponderações e as atitudes do seu superior.

Estava decretada a contradição entre um governante imprudente e o médico experiente, seu subordinado em cargo de confiança.

No microfone aberto afirmou bravateiro:

“pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar nesse sentido, ou seria acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriado, como bem disse aquele conhecido médico da conhecida televisão.”

Tal bravata, além de contrariar os esforços de prevenção do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, também desrespeitava os mortos de então e seus familiares, muitos deles bem mais jovens do que o Presidente e sem nenhuma comorbidade. O médico era o Dr. Dráuzio Varela, e a televisão a rede Globo. Foi o segundo atestado de negacionismo genocida.

Posteriormente reafirmou a sua disposição de negar a necessidade de isolamento social, como já estava sendo feito na Europa diante do avanço impressionante das infecções e mortes. É o que se pode inferir da seguinte afirmação:

“Eu tenho o direito constitucional de ir e vir, e ninguém vai tolher a minha liberdade”.

É baseado em tais premissas que ainda hoje vemos alguns fanáticos seguidores do mico afirmarem que os que obedecem ao isolamento são escravos do comunismo e do Dória, numa confusão conceitual tão absurda quanto ridícula. É como dizia a antiga letra de um conhecido samba “camelô na conversa ele venda algodão por veludo. Não me iludo porque nesse mundo tem bobo pra tudo”.

A reivindicação de um direito constitucional previsto para situações de normalidade, justo num momento de necessária preocupação com a anormalidade surgida, bem demonstra a primariedade de um governante com sentimentos absolutistas tal como um fanático fundamentalista religioso que usa a Bíblia para justificar a prática de mortes.

Ainda em março, afirmou que:

“o contágio pela covid19 no Brasil não será como nos Estados Unidos, porque nada acontece ao brasileiro… O brasileiro precisa ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando no esgoto e não acontece nada. Eu acho até que muita gente já foi infectada no Brasil há poucas semanas ou meses, e ele já tem anticorpos que ajudam e não proliferar isso daí.”

Francamente, ver o Presidente da República dizer uma besteira dessas, dá pra pensar que ele ou está gozando com a nossa cara, ou ele é isso mesmo que você está pensando; ou as duas coisas juntas.

O resultado de tal comportamento presidencial é que um ano depois, somos o país que assombra o mundo pela capacidade de contágio;

– que propicia a criação de variantes viróticas mais agressivas;

– que caminha celeremente para 300 mil mortes e que já registra quase 2.000 mortes diárias, quebrando recordes macabros de média nas últimas semanas;

– onde faltam vacinas, leitos, médicos, equipes médicas, equipamentos, oxigênio, e até caixões para sepultamento.

Ainda no mês de março, e diante da perspectiva de emperramento ainda maior da economia, afirmou que:

“tem a questão do coronavírus também, que no meu entender está sendo super dimensionado o poder destruidor desse vírus.”

Todas as suas intervenções desde o início e mesmo agora, quando os fatos contrariam frontalmente seus prognósticos e atitudes, vão no sentido da negação da letalidade e capacidade infecciosa do coronavírus, razão pela qual ele tem responsabilidade direta em grande parte das mortes havidas, que se podem atribuir na sua conta a mais de uma centena de milhares.

Um Presidente da República, mais do que um executivo com responsabilidades constitucionais definidas, tem a obrigação de dar exemplos edificantes e contributivos. Os seus gestos e falas repercutem coletivamente para o bem ou para o mal. Infelizmente, no nosso caso, nos enquadramos na segunda hipótese.

Veio o mês de abril de 2020, e com ele o aumento da tragédia sanitária e do comportamento negacionista por parte do Presidente Boçalnaro, o ignaro, numa imitação tupiniquim do seu guru estadunidense, o Presidente destrumpelhado que ainda se jactava de imbatível eleitoralmente. Por lá, também as mortes e contaminações proliferaram numa disputa macabra como Brasil.

Perguntado sobre o aumento do número de mortos superior aos da China, respondeu:

“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres!”

Não, Presidente, não são milagres que desejávamos que fossem feitos, mas atitudes coerentes com a gravidade do problema que se estabelecia. Primeiro com o respeito às vítimas e a seus familiares; depois com demonstração concreta de atitudes preventivas da propagação das infecções; e, por último, medidas de apoio aos doentes.

Não queremos dizer que com tais atitudes as mortes seriam todas evitadas, mas certamente que seriam diminuídas, e o sentimento de solidariedade para com as vítimas da tragédia sanitária certamente que inspiraria confiança dos brasileiros em seu Presidente. É o mínimo que se poderia esperar.

E emendou numa das suas conversas palacianas com sua claque de admiradores em frente ao Palácio:

“Vamos todos morrer um dia. Essa é a realidade, o vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra. Não como moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida, todos vamos morrer um dia.“

Ao perceber que estava sendo filmado, amenizou o tom irresponsável:

“lamento a situação que nós atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com os familiares que perderam seus entes queridos e que a grande parte eram idosos. Mas é a vida, amanhã sou eu!”

Não se trata de enfrentamento como homem. Evidencia-se aí o caráter misógino do Presidente, que sempre, mesmo quando não quer, deixa transparecer.

O enfrentamento do vírus, por profissionais da linha de frente, em grande parte bravas mulheres das equipes médicas que estão morrendo por contaminação nos hospitais, são pessoas corajosas e solidárias que cumprem os deveres de suas profissões. A questão não é de força ou de demonstração de machismo juvenil, mas de consciência e competência no enfrentamento da maior tragédia humanitária do pós-guerra.

Neste momento já se evidenciava a contradição entre a realidade e as prospecções infundadas feitas pelo Presidente, que imprudentemente vinha minimizando a crise sanitária e se esquivando da tomada das medidas necessárias.

Diferentemente do Primeiro Ministro do Reino Unido, que teve postura inicial semelhante, mas depois fez autocrítica reconhecendo seu erro e tomando as medidas preventivas que lhe eram factíveis, o nosso Presidente continuou com o negacionismo de sempre. Autocrítica não é o seu forte.

Em maio acentuaram-se as mortes e a necessidade de isolamento social, mas, mesmo assim, não foram poucas as posturas contra tal imperiosa necessidade.

É que o interesse e tentativa de manutenção da ordem econômica sustentável, então ameaçada, prevaleceu sobre a vida dos seres humanos, numa prova prática, empírica, de que a forma-sujeito da mercadoria dá ordens aos seus súditos dirigentes, que são dela dependentes. No caso nosso atual é a fome se juntando à vontade de comer.

Como vimos dizendo em muitos artigos, o capital nos dá ordens insanas e não nos permite raciocinar fora de seus enquadramentos mesquinhos e oportunistas (usam a necessidade de suprimento da vida a partir da produção de mercadorias para nos manter escravizados).

São proibidas quaisquer ações ou atividades fora de sua lógica, e os governantes, mais do que quaisquer outros seres sociais, são a ela obedientes, pois, afinal, é dos impostos advindos de sua mediação social que o Estado e a política sobrevive. Uma lástima.

O Presidente Boçalnaro, o ignaro, é um insensível representante dessa submissão autofágica, daí a sua renitente objeção ao isolamento social. Cobrado por medidas de suprimento social necessário, principalmente para os milhões de desempregados crônicos, que agora se somam aos novos milhões de desempregados da crise sanitária, ele afirmou:

“cobre do seu governador.”

Para dias depois dizer:

“lembro à nação que por decisão do STF, a ação de combate à pandemia (fechamento do comércio e quarentena, p. ex.) ficaram sob total responsabilidade dos governadores e prefeitos.”

Dias depois, e por conta de sua reiterada demonstração de desprezo pelas medidas preventivas, sem uso de máscara em muitos eventos públicos, foi infectado pelo vírus, e aí passou a despachar por vídeo conferência, porque pimenta nos olhos dos outros é refresco.

Para sua felicidade o vírus não teve contra ele a mesma capacidade letal que levou à morte milhares de infectados na sua mesma faixa etária (idosos com mais de 60 anos).

Continuando sua caminhada no sentido de promover o incentivo à quebra do isolamento, e participando publicamente, e sem máscaras, de eventos de ações governamentais que se repetiram meses afora (o que propiciou o aumento do contágio virótico), aproveitou o lançamento de um programa nacional de incentivo ao turismo, e afirmou:

“tudo agora é pandemia; tem que acabar com esse negócio, pô.”

Não satisfeito com a promoção criminosa da quebra do isolamento social por atos, manifestações e obras, veio em seguida a politização contra o uso de vacinas, e sua renitente e reiterada objeção ao uso das mesmas, fato que se pode inferir de uma eloquente e insana afirmação:

“dos chineses não compraremos. A decisão é minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população por sua origem. Esse é o pensamento nosso!”

Dias depois, com evidente manifestação de satisfação, e diante de um suposto caso de anomalia de alguém que houvera sido vacinado como teste e morreu, e mesmo sem saber da veracidade das suspeitas, que se comprovaram completamente inexistentes, disparou convicto:

“morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro acerta.”

E seguindo na mesma toada, dobrando a aposta:

“quanto à Pfizer, está bem claro no contrato: nós não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar jacaré, é problema de você. Não vou falar outro bicho aqui para não falar besteira. Se você virar super-homem, se nascer barba em alguma mulher ou se um homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com você.”

Quando a pandemia amainou por conta das restrições adotadas pelos Governadores e Prefeitos de muitas cidades, que compreenderam a necessidade do isolamento social como medida única até então para conter o avanço das infecções e mortes, eis que o Presidente voltou à carga com seus prognósticos irrefletidos e irresponsáveis incitando as aglomerações e volta a uma normalidade que não poderia ocorrer.

Disse ele:

“a pandemia realmente está chegando ao fim. Os números têm mostrado isso aí. Estamos com uma pequena ascensão agora, o que se chama de pequeno repique. Pode acontecer. Porém a vacina não se justifica, porque você mexe com a vida das pessoas.”

Estávamos em dezembro de 2020, e a pequena ascensão a que ele se referiu era na verdade o prenúncio de uma nova onda que se intensificou nas festas de fim de ano com aglomerações de jovens que se sentiram imunizados e estimulados à volta dos encontros festivos.

Por sua vez o presidente continuou a retardar as iniciativas de compra de vacinas que estavam sendo disputadas ansiosamente pelo resto do mundo. Sobre as cobranças que lhe estavam sendo feitas no sentido da aquisição das vacinas ele retorquiu:

“ninguém me pressiona por nada.”

Ele se considera um senhor absolutista da vida e da morte.

Quando saiu a pesquisa sobre a eficácia de 50% da vacina coronavac, em 13 de janeiro de 2021, ele não perdeu tempo em desclassificá-la dizendo:

“Essa de 50% é uma boa. O que eu apanhei por conta disso… Agora estão vendo a verdade. Estou há quatro meses apanhando por conta da vacina. Entre eu e a vacina tem a Anvisa. Eu não sou responsável. Não estou a fim de agradar quem quer que seja.”

Ora, a vacina imunizava 50,38% completamente, mas tinha eficácia de 78% no combate ao agravamento do danos causados pelas infecções, o que salvaria muitas vidas de quem fosse vacinado. Entretanto por mera disputa política por prestígio eleitoral mais apropriada para disputas de grêmio estudantil de curso de primeiro grau, ele relegou sempre a vacinação a um segundo plano. Esta postura reiterada, mais do que uma irresponsabilidade imprudente e inconsequente, é simplesmente criminosa.

Ainda em janeiro, e querendo defender as suas compras milionárias de cloroquina, voltou a fazer proselitismo de tal medicamento como tratamento precoce eficaz, fato comprovadamente descartado pela ciência médica mundial, e com possibilidade de efeitos colaterais nocivos à saúde de quem a ele se submete desnecessariamente.

Sobre isto afirmou dias depois, em 18 de janeiro de 2021:

“não desisto do tratamento precoce; não desisto. A vacina é para quem não pegou ainda. Essa acima de 50% de eficácia, ou seja, se jogar uma moedinha pra cima é 50% de eficácia.

Após todas as posturas anticientíficas e impudentes, com a demissão de dois Ministro da Saúde médicos, que se recusaram a obedecer suas ordens insanas e contrárias aos ensinamentos médicos, eis que nomeou um general obediente, cumpridor de ordens por mais obtusas que fossem, e com a maior cara-de-pau, passou a afirmar sobre a vacina:

“Está liberada a aplicação no Brasil. É a vacina do Brasil. Não é de nenhum governador, não. É do Brasil!”

Ora, é de se perguntar: que vacina? se estamos no fim da fila dos países que desejam comprá-las desesperadamente? Se foi o próprio Presidente quem afirmou que como somos um país populoso, detentor de um grande mercado consumidor, e eram os laboratórios que deveriam vir tentar nos vender as suas vacinas?.

Quanta primariedade diante de uma tragédia sanitária mundial;

– quanta prepotência de um pequeno-burguês serviçal dos grandes burgueses;

– quanta insensibilidade diante da vida humana;

– quanta burrice de um neófito e energúmeno que jamais dirigiu uma birosca que fosse e se mete a administrar o Brasil…

Para fechar o caixa, e diante da avassaladora tragédia que ora se abate sobre o povo brasileiro, com recordes diários de mortes e infecções sem que tenhamos vacinado mais que 3% da nossa população, o Presidente tripudia sobre o sentimento de perda dos familiares (muitos seus eleitores arrependidos) afirmando:

“chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando?

Diante da ausência de vacinas e da cobrança sobre tal necessidade, irritado e voltando às suas já tradicionais descomposturas próprias à diplomacia de um Ernesto Araújo e de um ex-pretenso-futuro embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o seu filho zero à esquerda, cravou a mais nova agressão ao povo brasileiro:

“um idiota que a gente vê nas redes sociais e na imprensa dizendo: vai comprar vacina. Só se for na casa da sua mãe. Não tem vacina para venda no mundo.”

E contradizendo (como sempre acontece com tudo que ele fala intempestivamente) sua posição anterior, afirmou agora:

“onde tiver vacina para comprar, nós vamos comprar.”

Após analisar o comportamento idiossincrático do Presidente Boçalnaro, o ignaro, comecei a admitir que não se tratava apenas de um oportunista primário que diante da debacle capitalista se desgasta como todos os governos que se metem a administrar o Estado falido que serve de suporte estruturante e indutor do capital, e das instituições estatais que mantêm a sociedade anestesiada e impotente ao combate do jugo opressor de que é vítima, mas de alguém que era detentor de uma patologia psíquica.

Mesmo sem ser profissional da psicanálise, tive que ler sobre o significado das patologias mentais congênitas ou adquiridas por formação da sociabilidade humana e condições sociais de convívio e satisfação de consumo, e cheguei à conclusão de que o nosso Presidente é um sociopata.

O indivíduo que age como se nada fosse de sua incumbência diante de uma crise sanitária que se constitui como a mais grave desde o pós-guerra;

– que afronta a ciência médica com bravatas descabidas que ele próprio contradiz imediatamente após serem formuladas;

– que num comportamento próprio de quem só quer o poder a qualquer custo e muda completamente a orientação das pretensas linhas programáticas do seu governo, ora desejando uma autogolpe absolutista, com fechamento do Congresso, do STF e clamando por uma proteção e tutela militar com um ato institucional rasgando a constituição, e ora se fazendo do mais antigo conciliador e negociador de cargos com o que há de mais fisiológico na política brasileira, e com a maior cara-de-pau;

– que nada diz a respeito da afronta aos brasileiros num momento de paralisia da economia que decresce no ranking das economias mundiais (passamos de 10ª para 12ª) com a compra de uma mansão de R$ 6 milhões na área nobre de Brasília, mesmo sendo um político que até ontem pertencia ao baixo clero da política carioca;

– que quer armar o povo brasileiro para uma guerra civil por ele imaginada, e que lhe conferiria poder autocrático daí advindo;

– que condecora milicianos e esconde assessores que compactuaram e serviram de agentes para a prática das conhecidas rachadinhas;

– que ameaça governadores que se orientam pelo isolamento social como prevenção diante do aumento da tragédia brasileira que chega e incomodar o mundo pela possibilidade de sermos um criadouro de variantes do vírus;

– que, que, que, que …

Seriam infindáveis os exemplos negativos de gerenciamento catastrófico atual do Poder Executivo, e saber que ainda nos faltam 1 ano, nove meses e alguns dias para o término do seu mandato, somente me vem à mente uma certeza:

precisamos destituí-lo do cargo pelas vias constitucionais previstas, com impeachment ou interdição (que é a via mais rápida).

Motivos não nos faltam; provas idem; será que vai haver falta de vontade política até que sejamos soterrados no fundo do poço???

Dalton Rosado

Dalton Rosado é advogado e escritor. Participou da criação do Partido dos Trabalhadores em Fortaleza (1981), foi co-fundador do Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos – CDPDH – da Arquidiocese de Fortaleza, que tinha como Arcebispo o Cardeal Aloísio Lorscheider, em 1980;