A simbólica dos chocolatinhos, ou a guerra contra a universidade, por EMANUEL FREITAS

As noites de quinta-feira, desde janeiro, tem sido o momento das “lives” do presidente Bolsonaro, em que, longe das interrogações da imprensa (daquela que ainda não foi por ele cooptada) e próximo de sua claque de seguidores fiéis às seus discursos, ainda no ambiente da rede social.

 

Ontem, como não poderia deixar de ser, o ministro (que se define como “gestor”) da Educação e esteve presente e o fla-flu entre ele e seu chefe nos dá mostras do que o governo pensa sobre a educação brasileira, sobretudo a superior. Um bom estudioso da política sabe que ela é, antes de tudo, um conjunto de atos simbólicos, performáticos, e os de ontem nos dão mostras disso.

 

Antes de tudo, o ministro apresenta chocolates ao presidente que diz “gostar”, “sobretudo se for de graça”, ao que seu subordinado diz que “não existe nada de graça”. O ministro compara o orçamento com caixas de chocolate. Interessante que ele diz que irá jogar os chocolates na mesa por que senão faria “muita bagunça” – ou seja, a tal “balbúrdia” pela qual ela vê a universidade, simbolicamente ele sugere fazer com o orçamento-chocolate, lançando-os na mesa sem uma ordem.

 

“Chocolatinhos”, assim mesmo, no diminutivo, é o termo utilizado por ele para referir-se às cifras do orçamento das universidades. Um bom brasileiro sabe para que serve nosso “inho”.

 

Uma “universidade normal”, diz ele, tem um orçamento de “um bilhão” (com bastante ênfase no bilhão) por ano; Bolsonaro indaga: “cada universidade tem um bilhão por ano?”, como a dizer: “se gasta tudo isso com cada uma” (escondendo, obviamente, o que se gasta em outros setores), ao que seu subordinado responde que outras gastam mais.

 

“Um bilhão por ano”, repete, ao que Jair lhe pergunta: “esse dinheiro vem de onde?”. Perceba: lança-se uma cifra supostamente vultuosa para impressionar a audiência, e depois indaga sobre o pagador. “Vem do seu bolso”, diz o ministro. “Você paga imposto para pagar chocolate” (falando mostrando um), “para pagar linha de celular”. Pronto, a operação simbólica estava feita: bilhões para chocolates e celular. Mordomias. Não por acaso, o chocolate que ele escolheu foi o de nome “prestígio”.

 

“Não estamos mandando ninguém embora, todos os salários estão preservados. Se fosse numa empresa, numa padaria, gente tem que mandar gente embora”. Isso, por certo, leva a audiência a indagar: ora, se não tem dinheiro, manda embora, ué!

 

Para o ministro, é apenas a quantidade de “três chocolatinhos e meio” o que se cortará do orçamento. Três prestígios? Três linhas de celulares? É apenas “segurar um pouco”, diz ele, “até setembro”. “Só isso”, “três chocolatinhos e meio”.

 

Nivelamento do discurso por baixo, comunicação rasteira, explicações falaciosas, mas que funciona, bem, em termos simbólicos.

 

Mas, meu nobre leitor, o melhor ato simbólico veio do presidente. Em dois momentos. Quando o leitor de “cafta” aponta os “três chocolatinhos”, Jair toma um de suas mão, abre-o e come-o. Devora-o. Devora o “orçamento”, ok? Tem fome dele. Não pôde vê-lo (bilhões?) sem controlar pôr a mão. E, ao final, diz que “adorou” e irá “confiscá-lo”.

 

Ato falho.

 

Parece ser isso. Confiscar o orçamento das universidades, território que lhe é hostil, para pôr não sei onde, tudo após setembro, data-limite que o mercado lhe deu para a provação da Reforma.

 

Bolsonaro, mais uma vez, deu mostras do quão desqualificado é. Nem o nome de seu ministro soube pronunciar.

 

Freud explica.

Emanuel Freitas

Professor Assistente de Teoria Política Coordenador do Curso de Ciências Sociais FACEDI/UECE Pesquisador do NERPO (Núcleo de Estudos em Religião e Política)-UFC e do LEPEM (Labortatório de Estudos de Processos Eleitorais e Mídia)